Não é novidade que a ingestão excessiva de alimentos açucarados contribui para a obesidade e outras complicações de saúde. Além disso, a relação entre açúcar e câncer de mama vem sendo explorada. Desse modo, seria possível estimar a relação do consumo desregulado deste item e a elevação da chance de desenvolver um tumor?
Entretanto, tal hipótese não deve ignorar que o açúcar pode ser parte importante de uma dieta saudável, desde que não ultrapasse os limites. No mais, o paladar que se desenvolve por alimentos está associado a uma série de aspectos culturais e afetivos, que também não devem ser negligenciados na hora de equilibrar a alimentação.
A importância do açúcar no organismo
Antes de discutir a possível relação entre açúcar e câncer de mama, é necessário dar um passo atrás e compreender o papel desse nutriente no organismo. Em síntese, os diferentes tipos de açúcar são a principal fonte de energia do corpo.
Entre os açúcares simples mais comuns estão a sacarose, que utilizamos no dia a dia e que é adicionada a outros alimentos durante o preparo, a frutose, provenientes das frutas, e a lactose, oriunda dos laticínios. Ademais, cadeias de moléculas de açúcar formam carboidratos. Em geral, açúcares simples são metabolizados primeiro. Por outro lado, açúcares complexos têm processamento mais lento. Como exemplo disso estão os carboidratos presentes em massas e cereais integrais.
Com isso, após a ingestão, todo açúcar é convertido em glicose. Na prática, a glicose é uma fonte de combustível imediato para o organismo, utilizado para manter a função de células e tecidos. Todavia, para que isso aconteça, o pâncreas precisa produzir a insulina, que permite a transformação da glicose em energia. De forma resumida, o comprometimento da produção ou da ação da insulina é que gera os quadros de diabetes.
Seja como for, quando essa glicose que não é “queimada”, ela precisa ir para algum lugar. Nesse caso, o organismo age transformando o excedente de energia em alguns tipos de gordura para uso posterior. Logo, é por isso que dietas ricas em açúcar podem levar ao aumento de peso.
A associação entre o consumo excessivo de açúcar e câncer de mama
De forma direta, ainda não existem evidências suficientes para garantir uma forte relação entre o consumo de açúcar e o câncer de mama. Porém, é preciso ressaltar alguns aspectos. Um deles é que ingestão frequente de alimentos açucarados está relacionada ao ganho de peso, um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de câncer de mama, como aponta a Associação Norte-Americana de Câncer.
No mesmo contexto, vários estudos vêm demonstrando a relação entre açúcar e câncer. Como ilustrativo disso, um artigo publicado em 2020, que acompanhou mais de 100 mil pessoas por mais de uma década, entre 2007 e 2019. Com os resultados, foi possível traçar possíveis ligações entre o consumo de tipos diferentes de açúcar e o surgimento de tumores.
Para isso, uma amostra de 101 mil pessoas registrou sua alimentação diária. Nesse período, dados socioeconômicos e relativos a outros hábitos que ampliam a chance de desenvolver câncer (como fumar, por exemplo) foram coletados. Dessa maneira, os voluntários também passavam por exames periódicos. Foram também registrados e avaliados diagnósticos de câncer. Ao final, foram diagnosticados 2503 casos de câncer em toda a amostra. Desse montante, 783 eram de mama.
Como conclusão, os responsáveis pelo estudo apontam uma possível relação entre o consumo maior de determinados tipos de açúcar e casos de câncer, independente do ganho de peso associado. Tal relação foi reforçada sobretudo pela maior incidência de quadros de câncer de mama.
Desse modo, a restrição do consumo de açúcar seria um fator de risco modificável importante para fortalecer a prevenção. Em todo caso, os autores apontam as limitações e reforçam a importância da replicação do resultado em outros grupos populacionais e o desenvolvimento de estudos que busquem explicar os mecanismos que desencadeariam tal conexão.
O consumo de açúcar entre pacientes com câncer
Ainda que haja uma possível relação entre açúcar e câncer de mama, é preciso desmistificar um ponto. Embora não recomendada, uma dieta rica em açúcar não acelera o crescimento de um tumor.
A explicação para esse alerta viria do fato de que ao se replicar descontroladamente, as células cancerígenas precisam de mais energia. Logo, ao garantir um suprimento de glicose considerável, elas se expandiriam pelo corpo com maior velocidade.
Contudo, isso não faz sentido. Como todo o organismo precisa de glicose, não há como restringir a oferta dessa fonte de energia apenas para as células do tumor. Além disso, elas precisam também de outros nutrientes para se desenvolver, não apenas da glicose. Por isso, uma dieta extremamente restritiva causaria prejuízos ao organismo de forma integral.
Como equilibrar a ingestão de açúcar
Risco de câncer à parte, o controle na ingestão de açúcar pode beneficiar a saúde como todo. Não por menos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo de açúcares livres se restrinja a no máximo de 10% das calorias diárias. De forma adicional, uma restrição a apenas 5% (ou mais ou menos 25 gramas de açúcar por dia) traria ainda mais benefícios.
De acordo com a OMS, açúcares livres são aqueles presentes em bolos, biscoitos, bebidas adoçadas ou mesmo no cafezinho do dia a dia. A indústria alimentícia faz amplo uso desse tipo de açúcar. Em contrapartida, o açúcar proveniente de frutas inteiras e laticínios não devem entrar na conta para eventuais restrições, salvo orientação particular em contrário.
Em suma, muito ainda precisa ser esclarecido na relação entre açúcar e câncer de mama (ou mesmo outros tipos de tumor). Apesar disso, restringir o consumo de certos alimentos adocicados contribui com a saúde. Por isso, repensar hábitos e ficar de olho nos rótulos dos alimentos são passos iniciais importantes. No mais, vale sempre dar preferências aos alimentos naturais ao invés daqueles processados industrialmente.
Veja quais os principais fatores de risco para o desenvolvimento de mama e fortaleça a prevenção.
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