Uma vida sexual satisfatória é essencial para a saúde, inclusive o sexo é reconhecido com um dos quatro pilares da qualidade de vida, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A sexualidade é um dos aspectos que têm merecido a atenção de especialistas em câncer, principalmente em relação aos tumores que apresentam altas taxas de cura e sobrevida, entre eles o câncer de mama.
Estima-se que 20 a 30% das mulheres com neoplasia de mama desenvolvem disfunções sexuais. O impacto da notícia pode influenciar no desejo sexual. Além disso, o câncer de mama atinge um dos símbolos da feminilidade e isso, por si só, já é o bastante para abalar a autoestima e autoimagem da mulher.
Com o tratamento, surgem as consequências físicas, como cansaço, dores, enjoo, queda de cabelos, ganho de peso, inchaço etc. Se a mulher precisar fazer a hormonioterapia, somam-se a todos esses efeitos o ressecamento vaginal e a perda da libido. Naturalmente, com esse cenário, a disposição para o sexo pode ficar reduzida.
No Brasil, a abordagem clínica do sexo durante o tratamento do câncer ainda não está consolidada. Mas, nos Estados Unidos, por exemplo, há uma especialidade chamada de “oncosexologia”, que trata das questões sexuais das pacientes. A maneira de lidar como a sexualidade depende de muitos fatores, mas principalmente, da percepção que o médico tem do tratamento.
Antigamente, as taxas de cura e sobrevida eram menores, e nem se pensava na sexualidade. Mas hoje, o câncer de mama com uma taxa de cura em torno de 95% e sobrevida de 97% em cinco anos, faz com que a sexualidade seja um dos aspectos mais importantes da qualidade de vida das mulheres.
Como está a sua atividade sexual antes de iniciar o tratamento? Isto vai ser discutido pelo mastologista, para comparar e reavaliar os dados durante e depois do tratamento. Como envolve aspectos físicos e emocionais, a abordagem pode incluir profissionais de outras áreas da saúde, indicados por seu mastologista.
É preciso ajudar a paciente a criar mecanismos para exercer sua sexualidade de acordo com seu estado atual, de maneira saudável. Um ponto importante é valorizar novas formas de sexualidade, que não necessariamente envolvam a penetração, o que incentiva a paciente a procurar outras formas de prazer.
Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP) com pacientes com câncer de mama revelou que 56,8% das entrevistadas revelaram ter tido ao menos um parceiro sexual no último ano e 48,9% disseram ter feito sexo no último mês. Isso mostra que ao contrário do que se pensa, cerca de metade das mulheres com câncer de mama têm uma vida sexual ativa.
Além do acompanhamento com uma equipe multidisciplinar, é importante manter bons hábitos de vida. A prática de exercícios físicos, por exemplo, ajuda a manter bons níveis de endorfina, substância ligada à sensação de bem-estar e ajuda a diminuir o estresse e a ansiedade.
Há relatos de mulheres que dizem que a vida sexual melhorou depois do câncer de mama, uma vez que a doença serviu de alerta sobre a importância de valorizar a relação, o parceiro, as coisas que realmente importam na vida.
Cada paciente responde de maneira diferente ao tratamento, em todos os aspectos. Cada mulher deve ter um acompanhamento individual e personalizado. É preciso incentivar mais a discussão da sexualidade, para que finalmente se quebre o tabu que envolve o assunto, principalmente quando falamos de câncer.