A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), instituição equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), anunciou nos últimos dias que irá estudar se há, de fato, a necessidade de restringir o uso dos contraceptivos orais de terceira e quarta geração em mulheres que não podem tomar outras versões da pílula. A principal preocupação é a trombose venosa profunda (TVP), um risco raro associado ao uso de contraceptivos orais. O risco é mais alto nas pílulas orais combinadas de terceira e quarta geração quando comparado às pílulas percursoras, de acordo com o EMA.
Os contraceptivos orais combinados são compostos dos hormônios estrogênio e progesterona, na forma sintética. A grande diferença entre as gerações das pílulas é uma molécula usada como componente da progesterona, a progestina.
A França pediu ao EMA para realizar uma revisão devido às recentes iniciativas para reduzir o uso dos anticoncepcionais orais combinados de terceira e quarta geração, favorecendo o uso das pílulas de segunda geração. O governo Francês anunciou ainda que não irá mais reembolsar a compra destes medicamentos, depois que uma mulher processou uma indústria farmacêutica, alegando que o contraceptivo causou danos a sua saúde.
Há 12 anos, o EMA conduziu uma revisão parecida, comparando o risco da trombose venosa profunda dos contraceptivos orais de terceira geração, que contêm a progestina, o desogestrel ou o gestodeno com as pílulas de segunda geração, que contêm a progestina, o levonorgestrel e o mesmo nível de etinilestradiol, o hormônio análogo ao estrogênio. O EMA concluiu em 2001 que as mulheres que tomavam as pílulas de terceira geração apresentavam um pequeno aumento no risco para desenvolver a trombose.
Entretanto, o balanço entre os riscos e os benefícios do uso da pílula permaneceu favorável à utilização. Desta maneira, a agência afirmou que não havia nenhuma razão para as mulheres pararem de tomar qualquer tipo de contraceptivo oral. Outro fator importante foi a afirmação da própria EMA de que a gravidez é um fator de risco muito maior para a formação da trombose venosa profunda quando comparada ao uso dos contraceptivos orais combinados.
Desta vez, o Comitê de Avaliação de Riscos de Farmacovigilância do EMA irá emitir uma opinião sobre as informações atuais das pílulas de terceira e quarta geração para fornecer uma melhor orientação aos pacientes e aos médicos.
Aqui no Brasil, a ANVISA segue a mesma conduta do EMA e está avaliando os dados sobre o aumento do número de casos de mulheres que apresentaram a trombose venosa profunda, quando usuárias dos contraceptivos orais. Entretanto, não há nenhuma recomendação da suspensão do uso do medicamento, salvo por indicação médica.
Para a classe médica, não há surpresa e nem alarde. A trombose venosa profunda entre as usuárias de contraceptivos orais combinados é um evento muito raro, cerca de 10 casos a cada 100 mil mulheres. Já na gravidez, o risco de uma trombose é muito maior, sendo de 60 casos a cada 100 mil. As discussões são importantes, é claro, porque envolvem a saúde. Entretanto, é vital que todos os métodos contraceptivos sejam discutidos entre o médico e paciente antes de iniciar o uso.