O consumo de álcool é comum, mas contribui para o desenvolvimento de várias doenças, como o câncer de mama. Agora, uma pesquisa brasileira avaliou também que beber álcool pode influenciar negativamente o tempo de vida de pacientes com câncer de mama triplo negativo. Este estudo foi publicado na Breast Cancer: Basic and Clinical Research.
Entenda, a seguir, o que foi analisado e concluído sobre o consumo de álcool e outros fatores em pacientes com câncer de mama triplo negativo.
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O que é o câncer de mama triplo negativo?
Primeiro, vamos entender esse tipo de câncer, que é considerado um tumor agressivo. Ele é denominado como triplo negativo pois é um tumor que não tem nenhum dos três biomarcadores mais empregados na classificação do câncer de mama. Isto é, ele é negativo para receptor de estrógeno, receptor de progesterona e proteína HER-2.
Segundo a American Cancer Society, esse câncer é responsável por cerca de 10% a 15% de todos os casos de câncer de mama. E ele é mais comum em mulheres com menos de 40 anos, afro-americanas ou com mutação no BRCA1.
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Esse câncer pode apresentar mesmos sinais e sintomas que outros tipos de câncer. Porém, ele cresce e se espalha rapidamente, tendo opções limitadas de tratamento e um pior prognóstico. Por isso, geralmente, a perspectiva não é tão boa quanto para outros tipos de câncer de mama. Mas muitas pesquisas têm sido feitas com o objetivo de combater este câncer.
Características das mulheres participantes do estudo
Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca) avaliou mulheres diagnosticadas com câncer de mama triplo negativo entre 2010 e 2014 que passaram por quimioterapia seguida de cirurgia. O objetivo era avaliar como os fatores sociodemográficos, clínicos e patológicos influenciam os casos de mulheres com câncer de mama triplo negativo.
Ao todo, foram avaliadas 235 pacientes com câncer de mama triplo negativo.
Dessa forma, foi possível chegar a algumas conclusões sobre o perfil das participantes:
- Média da idade era 50,1 anos;
- Maioria branca (47,6%);
- Pelo menos oito anos de instrução (55,2%);
- Índice de massa corporal (IMC) médio de 28,1 kg/m2;
- Tabagismo foi relatado por 24,2%;
- Consumo de álcool foi relatado por 22,9%.
Análise sobre progressão e tempo de vida
Com esses fatores e características das mulheres analisadas, os pesquisadores avaliaram a sobrevida livre de eventos e a sobrevida global. A sobrevida livre de eventos é um período após um tratamento durante o qual o paciente permanece sem apresentar complicações. Já a sobrevida global é o tempo durante o qual um paciente permanece vivo após o diagnóstico da doença ou início do tratamento.
Assim sendo, foi constatado que a sobrevida sem complicações em três anos foi de 59,4% e em cinco anos foi de 53,3%. Já quanto à sobrevida global, a probabilidade de estar viva em três e cinco anos foi, respectivamente, de 68,2% e 59,6%. A média de sobrevida global foi de 83,36 meses.
Esses dados mostram um mau prognóstico de boa parte dos casos. Mas é importante considerar que muitas mulheres foram diagnosticadas tardiamente, com um estágio avançado da doença. Portanto, isso dificulta uma melhor sobrevida.
Consumo de álcool e pacientes com câncer de mama triplo negativo
O consumo de álcool influenciou o tempo de vida das pacientes, aumentando em 74% o risco de algum evento e em 97% o risco de morte.
Segundo os autores, pode haver interferência do álcool nos efeitos da quimioterapia no corpo. Mas também pode ter implicações sociais relacionadas com uma menor adesão ao tratamento.
“Essa influência pode potencialmente se dar tanto de forma direta, por meio de alterações do metabolismo de drogas antineoplásicas [medicamentos usados para destruir as células malígnas], quanto de forma indireta pela pior adesão dessas pacientes às recomendações de tratamento oncológico”, explicou ao Medcaspe o Dr. Jessé Lopes da Silva, autor do estudo e oncologista clínico no Inca.
Mas, o estudo não avaliou dados como dose e frequência de consumo de álcool. Por isso, são necessários mais pesquisas sobre o tema para aprimorar as conclusões.
“O atendimento oncológico das pacientes com câncer de mama deve ser global e multifacetado. Estar focado apenas em questões específicas do tratamento antineoplásico, sem focar nas circunstâncias sociodemográficas, pode induzir a resultados inferiores”, afirma o autor Dr. Jessé Lopes da Silva.