Movimentar o corpo com regularidade e reduzir o tempo sedentário é um fator importante para prevenir a chance de desenvolver um câncer de mama. No entanto, nem sempre é fácil incluir no dia a dia rotinas de exercícios físicos compatíveis com muitas das recomendações existentes. Nesse contexto, a boa notícia é que mesmo atividades físicas de curta duração, mas com alta intensidade também podem ajudar a reduzir o risco da doença.
Assim, quem não consegue (ou mesmo não gosta) de se exercitar pode obter benefícios subindo escadas ou caminhando em velocidade acelerada por alguns minutos ao dia. Tais conclusões são apresentadas em um artigo publicado no final de julho de 2023, no periódico JAMA Oncology.
O que se sabe sobre o papel dos exercícios na prevenção de um câncer?
Várias evidências reunidas nas últimas décadas mostram que, além de contribuir com inúmeros aspectos do bem-estar físico e mental, engajar-se na prática regular de exercícios físicos pode reduzir a chance de uma pessoa desenvolver um câncer.
Não se sabe ao certo os motivos disso. Entre as possíveis explicações estão o fato de que exercitar-se ajuda no controle do peso corporal, por exemplo. Além disso, o esforço físico constante pode ajudar a regular a presença de hormônios como o estrogênio e a insulina, que em muitos casos estão associados à evolução de um tumor.
Diante disso, as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que adultos devem acumular entre 150 e 300 minutos de atividade física de intensidade moderada ou entre 75 e 150 minutos de atividade física de intensidade intensa (ou ainda uma mistura de ambos os ritmos).
Tal orientação, claro, precisa considerar uma série de fatores. Muitas pessoas não encontram uma atividade física que desperte seu interesse. Enquanto isso, outras sequer têm tempo para dedicar-se a essa tarefa com a regularidade necessária para acumular os minutos recomendados semanalmente.
Foi justamente pensando nisso que o estudo conduzido por pesquisadores ingleses considerou ao avaliar se pequenos períodos de atividades físicas de curta duração, mas com alta intensidade poderiam oferecer algum benefício. Para isso, os responsáveis pelo estudo consideraram esforços comuns feitos durante a rotina. Provavelmente você repetiu muito deles: de subir uma escada a correr atrás do ônibus, era justamente esse tipo de movimento mapeado.
Como atividades físicas de curta duração podem reduzir o risco de reduzir a doença?
A partir disso, foram incluídas no estudo pouco mais de 22 mil pessoas, com idade média de 62 anos. Aproximadamente 55% eram mulheres e 45% homens. No momento em que eles ingressaram no estudo, todos os voluntários reportaram não praticar exercícios físicos no seu tempo livre. Além disso, nenhum deles tinha registrado quadro anterior de câncer.
Para registrar a intensidade e a duração das atividades físicas, todos os voluntários usaram por sete dias uma pulseira com um acelerômetro. Esse é o nome de um pequeno dispositivo capaz de registrar movimentos, utilizados também em smartphones. Tal método faz parte de um estudo maior, que usa os dados dos acelerômetros para outras pesquisas.
Seja como for, os pesquisadores dividiram as atividades registradas em três níveis de intensidade: leve, moderada ou vigorosa. No fim, constatou-se que apenas 6,8% dos voluntários não registraram qualquer atividade vigorosa. Por outro lado, 97% das atividades com intensidade acentuada não superaram dois minutos de duração. No fim do dia, os participantes acumulam, em média, 4,5 minutos de movimentos intensos.
Junto com os dados das atividades físicas, os participantes foram acompanhados por cerca de sete anos e tiveram os casos de câncer registrados. No fim, a amostra de voluntários teve 2.365 casos de câncer diagnosticados. Desse total, pouco mais de 1000 puderam ser associados ao comportamento sedentário.
Assim sendo, ajustando esses diagnósticos com relação ao nível de esforço físico e outros fatores (como peso corporal ou histórico de tabagismo), os pesquisadores concluíram que alguns minutos de atividades físicas vigorosas por dia podem reduzir a chance de ter um tumor. Quem conseguiu acumular entre 3,4 e 3,6 minutos desse tipo de esforço por dia teve uma redução entre 17% e 18% na possibilidade de desenvolver a doença.
De que forma você pode movimentar-se mais no dia a dia?
Outra boa notícia extraída do estudo é que os benefícios da atividade física de curta duração são dose-resposta. Na prática, isso significa que quanto mais tempo movimentando o corpo acumular, maior a redução do risco de ter um câncer. Ou seja, quanto mais melhor.
No estudo em questão, os autores apontam que quatro minutos ou mais de esforço físico intenso podem reduzir a chance de ter um câncer em cerca de 20%. Quando se considera os tipos de câncer associados ao sedentarismo, essa redução foi de 30%.
Desse modo, essas informações podem servir como incentivo para mudar alguns hábitos no dia a dia. Ainda que o estudo tenha limitações, as mensagens básicas que ficam é que é fundamental reduzir o tempo parado e que qualquer atividade física é sempre melhor do que nenhuma.
Por isso, para quem não tem o costume de se exercitar, uma caminhada rápida pode ser um bom começo. Com o tempo, é possível ir aumentando a duração e a intensidade. Trocar o elevador pela escada, descer do ônibus um ponto antes e fazer atividades do dia a dia a pé ou de bicicleta (quando possível, claro) também são boas formas de repensar a rotina.
Por fim, para aqueles que o fato de mexer o corpo não é uma ideia muito animadora, encontrar alguma forma prazerosa de se exercitar ou fazer isso com alguém (amigos ou familiares) pode servir de incentivo. O fundamental é dar o primeiro passo! Nesse contexto, entender que mesmo atividades físicas de curta duração podem ajudar, é bastante relevante.
Aproveite e veja agora como exercícios físicos são importantes também para reduzir o risco de recorrência e aumentar a sobrevida associada a um câncer de mama.