Além de outras questões envolvidas na jornada do tratamento, é normal que mulheres diagnosticadas com tumor na mama tenham dúvidas sobre a alimentação. Nesse contexto, um pequeno estudo investigou a possível relação positiva entre aspectos do quadro de câncer de mama e a adoção de uma dieta vegetariana.
Pesquisadores norte-americanos concluíram que pacientes em estado metastático obtiveram benefícios ao adotarem uma rotina alimentar baseada em vegetais. Entre os indicadores avaliados estavam a qualidade de vida, a perda de peso e a evolução de componentes metabólicos no período.
Os resultados obtidos foram publicados em dois artigos: o primeiro com as métricas analisadas pelos médicos pesquisadores e o segundo, baseado nos relatos das pacientes acompanhadas.
O controle de peso e a alimentação durante o tratamento do câncer de mama
Embora outros tipos de câncer estejam associados à perda de peso, parte das pacientes com tumores na mama frequentemente experimentam um aumento da massa corporal durante o tratamento.
Ao mesmo tempo, quadros de obesidade, seja no diagnóstico, seja no prosseguimento da trajetória de enfrentamento da doença, estão relacionados a piores desfechos clínicos. Assim, mulheres nessas condições têm uma redução ainda mais perceptível na qualidade de vida no período, bem como um risco maior de mortalidade pela doença.
Tal fenômeno pode ser explicado pela piora de parâmetros de resistência à insulina, elevação na concentração de glicose, colesterol ou produção de determinados hormônios fora dos níveis desejáveis. No final, esses são fatores que também influenciam o risco de outras condições, como alterações cardiovasculares, mesmo entre pacientes que sobrevivem ao câncer de mama.
Portanto, iniciativas para gerenciar o ganho de peso depois do diagnóstico são relevantes. No entanto, determinados grupos acabam sendo excluídos dessas orientações, muito por conta da falta de evidências sobre o tema.
É o caso de pacientes com câncer já em estágio metastático (ou seja, que progrediu para outras partes do corpo além do ponto inicial do diagnóstico).
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Os possíveis benefícios de uma dieta vegetariana
Foi com isso em mente que pesquisadores norte-americanos buscaram entender se uma dieta baseada em vegetais poderia oferecer benefícios para essas mulheres.
Para isso, foram recrutadas 32 pacientes com tratamento estável contra a metástase e que tinham uma perspectiva de sobrevida de pelo menos seis meses.
Uma parte delas (21 pessoas) seguiu uma dieta baseada em preparados fornecidos pelos pesquisadores, por oito semanas. Eram três refeições principais compostas de frutas, vegetais, grãos integrais, nozes e sementes.
Adicionalmente, elas poderiam acrescentar outros pratos à rotina, desde que as regras gerais da dieta fossem seguidas.
As 11 mulheres restantes foram orientadas a seguir sua alimentação convencional. De qualquer forma, elas ainda tinham o acompanhamento da equipe responsável pelo estudo para discutir mudanças no tratamento e efeitos colaterais relacionados às terapias.
Ao final das oito semanas, foi possível constatar que a dieta vegetariana entre as pacientes com câncer de mama metastático estava associada a:
- Redução no peso (de cerca de 600 gramas por semana), o que levou o IMC médio de 29,7 para 27,8.
- Diminuição do colesterol ruim (LDL) em quase 20%.
- Aumento nos marcadores associados ao bem-estar físico e emocional, assim como de qualidade de vida.
- Ampliação da percepção da capacidade cognitiva.
- Amenização de alguns efeitos colaterais associados ao tratamento (como diarreia e fadiga).
O artigo focado no relato das pacientes mostrou que elas demonstraram impressões favoráveis em relação à dieta vegetariana, não se queixaram de fome e registraram uma sensação positiva quanto ao sabor dos alimentos durante o estudo.
O que precisa ser observado por médicos e pacientes
O número limitado de pacientes é um grande obstáculo para o estudo. Ainda que interessantes, mais análises precisam ser feitas para confirmar a hipótese dos benefícios da dieta vegetariana no câncer de mama.
A amostra de pouco mais de 30 pessoas não permitiu também que fosse possível apresentar alguma conclusão sobre se a mudança na alimentação influenciou na progressão da doença, incluindo indicadores de mortalidade.
Além disso, é preciso entender melhor se essas pacientes seriam capazes de seguir tal alimentação em suas rotinas, sem que para isso tivessem as refeições preparadas e fornecidas pelos responsáveis pelo estudo.
De qualquer maneira, na hora de pensar na relação entre dieta vegetariana e câncer de mama, médico e paciente devem considerar que mudanças radicais na alimentação não são simples. Junto de eventuais restrições, devem ser consideradas as particularidades de cada caso, o que inclui o paladar e a disponibilidade de acesso e preparo de cada alimento.
Confira agora um estudo que mostrou como o ganho de peso entre pacientes com câncer de mama parece ser mais significativo do que se costumava estimar.