Anualmente, só no Brasil, milhares de mulheres recebem a notícia de um diagnóstico de câncer de mama, conforme os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Para 2022, a estimativa é que mais de 70 mil casos tenham sido identificados. As pacientes diagnosticadas, claro, devem ser orientadas sobre a progressão da doença e as alternativas de tratamento disponíveis.
Seja como for, nas últimas décadas, a mortalidade pela doença vem caindo, principalmente quando se leva em conta os casos diagnosticados em estágios iniciais. Essa é a principal conclusão de um estudo feito com mulheres inglesas publicado no The British Medical Journal em junho de 2023.
O estadiamento de um câncer de mama após o diagnóstico
Junto com o diagnóstico de um câncer de mama, o médico responsável pelo acompanhamento precisa determinar algumas características a respeito da evolução do tumor. Dessa forma, é possível saber o seu tamanho e se ele já se espalhou para outras partes do corpo. Isso recebe o nome de estadiamento.
Na prática, os estágios de um câncer de mama vão de 0 a IV. Como exemplo, no estágio 0, o tumor ainda pode estar restrito aos ductos mamários. Essa é considerada a forma mais precoce da doença. Tal formação recebe o nome de carcinoma ductal in situ ou carcinoma intraductal.
Por outro lado, no estágio I já podem ser enquadrados carcinomas invasivos que extrapolam a região dos ductos mamários e, com isso, têm mais facilidade em se espalhar por outras partes do corpo. Nesse grau, o câncer tem menos de dois centímetros e nem sempre atinge os linfonodos. No estágio II, o tumor ultrapassa os cinco centímetros. Por fim, tumores nos estágios III e IV indicam que a doença já avançou, seja localmente, seja para partes distantes do corpo.
Além do tamanho e do espalhamento do tumor, outros fatores que são avaliados no processo de estadiamento são as características das células cancerígenas (o quanto elas se diferenciam de células normais), o status dos receptores hormonais e de expressão da proteína HER2.
Em resumo, quanto mais avançado o estágio de um tumor, mais difícil obter o sucesso esperado com as alternativas terapêutica disponíveis. Ou seja, o diagnóstico de um tumor em estágio inicial pode fazer toda a diferença no sucesso do tratamento.
A redução na mortalidade nas últimas décadas
Os pesquisadores ingleses do estudo recém-publicado fizeram uma análise dos dados de mais de 500 mil pacientes diagnosticados entre 1992 e 2015 justamente com tumores invasivos em estágio inicial. A partir disso, essas pacientes foram divididas em quatro grupos, conforme o ano do diagnóstico. O primeiro grupo reuniu as mulheres com câncer diagnosticado entre 1993 e 1999, o segundo de 2000 a 2004, o terceiro de 2005 a 2009 e o quarto de 2010 a 2015.
Os dados disponíveis também informaram a respeito do estágio e do tamanho tumor, do número de linfonodos afetados e do status do receptor hormonal de cada quadro. A pesquisa incluiu mulheres submetidas a procedimentos cirúrgicos para remoção do tumor, seja de forma conservadora ou radical, como primeira linha de tratamento.
No fim, a conclusão foi de que a mortalidade caiu quase três vezes entre 1993 e 2015. Enquanto o risco de mortalidade por esse quadro da doença era de 14,4% nos anos 90, entre 2010 e 2015 ele atingiu 4,9%.
Além disso, os pesquisadores também concluíram que o risco de morte em todas as pacientes que tiveram os dados avaliados era maior nos cinco anos iniciais após o diagnóstico. Todavia, tal risco crescia nos dois primeiros anos, atingia o topo no terceiro ano e começava a cair depois disso.
Entretanto, o decréscimo na mortalidade não foi igual entre todos os grupos. Enquanto para a maior parte das mulheres (acima dos 60%) diagnosticadas entre 2010 e 2015, o risco foi inferior a 3%, em um pequeno recorte das pacientes (menos de 5%), tal patamar ainda superou os 20%. Mulheres com receptores hormonais negativos, mais idade e tumores maiores apresentaram tendência a um prognóstico pior.
Os motivos que podem explicar tal queda
O artigo indica que pode ser difícil delimitar todas as possíveis causas para a redução na mortalidade identificada. Porém, ao acompanhar pacientes por um período de mais de 20 anos, o estudo capturou o impacto na evolução do entendimento a respeito do câncer de mama e na introdução de novas opções de tratamento.
Muitas das alternativas mais utilizadas para tratar diversos tipos de tumor na mama foram introduzidas na virada para os anos 2000. Ademais, os autores apontam que nesse mesmo período cresceu a eficiência das ações de rastreamento, que permitem identificar a doença em estágios iniciais.
Entre as limitações apontadas a respeito das conclusões apresentadas estão a falta de dados sobre recidivas. Além disso, considerar o risco a partir do recorte de cinco anos pode não ser efetivo para todos os casos de câncer de mama. Em determinadas circunstâncias, o prognóstico pode ser pior na primeira década, mas ir melhorando com o passar do tempo, conforme as características do tumor.
No mais, nem sempre é possível transportar as conclusões de um estudo para todos os contextos. Em muitos locais, inclusive no Brasil, a redução da mortalidade após o diagnóstico de câncer de mama parece ser bastante desigual, principalmente por fatores demográficos e socioeconômicos. Estudo feito no estado de São Paulo mostrou piores prognósticos entre pacientes negras, por exemplo.
Para saber mais sobre como os novos medicamentos ajudaram na redução da mortalidade em anos recentes, veja este outro conteúdo publicado por aqui.
2 Comments
Meu exame deu Birads 0 em uma das mamas. Devo me preocupar?
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