A fadiga relacionada ao câncer entre sobreviventes de câncer de mama precoce é um problema persistente, porém, é um assunto negligenciado, segundo novo estudo apresentado no ESMO Breast Cancer Virtual Meeting 2020. O evento aconteceu nos dias 23 e 24 de maio.
De acordo com o estudo, a fadiga pode ter dimensões físicas, emocionais e cognitivas e existem recomendações e estratégias comprovadas para reduzi-la. Porém, não estão sendo suficientemente aderidas por pacientes com câncer de mama precoce.
“Embora ainda não se saiba muito sobre os diferentes mecanismos subjacentes à fadiga, agora temos recomendações específicas e baseadas em evidências para tratá-la: a primeira é iniciar ou manter níveis adequados de atividade física e limitar o tempo de sedentarismo o máximo possível. Os dados também apoiam o uso de intervenções psicossociais, como terapia cognitivo-comportamental, que podem ajudar a abordar pensamentos como dramatizações excessivas ou sentimentos de desamparo. Nosso objetivo com este estudo foi avaliar a aceitação no mundo real dessas recomendações”, explica o autor do estudo Dr. Antonio Di Meglio, de Gustave Roussy, em Villejuif, França.
Métodos usados no estudo
No estudo, os pesquisadores avaliaram a aceitação e a utilização das recomendações de atividade física e de cuidados de suporte entre as sobreviventes do câncer de mama precoce. Segundo a pesquisa, o trabalho se baseou em dados do estudo de corte CANTO, que avaliou toxicidades a longo prazo em mais de 10 mil pacientes com câncer de mama precoce. Todas foram tratadas em 26 centros de câncer na França por pelo menos cinco anos a partir do diagnóstico.
Desta forma, participaram da análise apenas mulheres que concluíram o tratamento primário e estavam livres da doença. Foi examinada a utilização de estratégias recomendadas para tratar fadiga durante 12 meses após uma avaliação inicial.
Uma pontuação de 40 ou mais definiu a fadiga relacionada ao câncer como severa. Assim, os dados sobre a adesão às recomendações de atividade física (10 horas-MET/semana ou mais) e as consultas de cuidados de suporte com psicólogo, acupunturista ou homeopata foram coletados no CANTO.
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Segundo o estudo, no baseline, 36% das pacientes relataram fadiga severa. Já, ao detalhar o tipo de fadiga, os pesquisadores chegaram a esses resultados:
- 36% relataram fadiga física severa;
- 23% relataram fadiga emocional severa;
- 14% relataram fadiga cognitiva severa.
Aceitação da prática de atividade física
A maioria das pacientes (64%) cumpriu as recomendações de atividade física. Porém, isso deixa ainda uma proporção grande (36%) de pacientes que não foram suficientemente ativas. De acordo com a pesquisa, os resultados ainda mostraram que as pacientes que relataram níveis severos de fadiga no início do estudo eram menos propensas a aderir as recomendações de atividade física do que aquelas com sintomas não graves (60% vs 67%).
Além disso, a pacientes que relataram fadiga física severa apresentaram menor adesão à atividade física (59% vs 67%). “A mensagem aqui é que precisamos trabalhar mais para incentivar os pacientes a permanecerem ativos e fazê-los entender que, mesmo que pareça contraintuitivo, é um exercício, não um descanso, que os ajudará a superar a fadiga”, afirmou Di Meglio.
Aceitação de suporte com psicólogo, acupunturista e homeopata
No geral, apenas 10% das pacientes se consultaram com um psicólogo, 8% foram atendidas por acupunturista e 7% por homeopata. As pacientes com fadiga emocional severa foram mais propensas a participar de consultas com psicólogo.
De acordo com o pesquisador Di Meglio, esses dados sugerem que as pacientes podem não estar suficientemente cientes de quais são as recomendações. Assim sendo, ele afirma, os oncologistas precisam garantir que os pacientes sejam instruídos sobre as opções de que dispõem para reduzir a fadiga.
Segundo o autor do estudo, era esperado que mulheres com fadiga geral grave dependessem muito mais de medidas de cuidados de suporte, como consulta com psicólogo, acupunturista ou homeopata. Mas, na verdade, eram apenas 1,3 vezes mais propensas a procurar ajuda de um psicólogo, por exemplo, do que pacientes com fadiga não severa. “Isso pode ser explicado, em parte, pelo fato de que intervenções psicossociais nesse contexto geralmente trazem custos diretos para os pacientes”, afirma o pesquisador.
A pesquisa conclui dizendo que o que é realmente necessário é uma abordagem de 360 graus em que os profissionais de saúde façam recomendações terapêuticas de acordo com as características e necessidades exclusivas dos pacientes.