São muitas as recomendações para um estilo de vida saudável que contribuem na prevenção do câncer de mama e são amplamente incentivadas. Entretanto, não se sabe muito bem quais os benefícios de tais hábitos no desfecho dos quadros de pacientes já diagnosticadas.
Foi pensando nisso que um estudo publicado em maio de 2023 na JAMA Network Open tentou responder quais os impactos da adesão a determinados comportamentos antes, durante e depois do tratamento.
Para esse fim, foram incluídas na pesquisa pacientes de diferentes estágios, muitas das quais com tumores de perfil de alto risco. No fim, no grupo com maior aderência aos hábitos recomendados, a redução na mortalidade alcançou os 52%. A queda no número de recidivas foi de 38%.
Como o estudo foi feito?
Para entender melhor a relação entre um estilo de vida saudável e o desfecho de um câncer de mama, pesquisadores norte-americanos reuniram uma amostra composta por 1340 pacientes com câncer de mama. Essas mulheres foram recrutadas a partir de outro estudo que investigava a efetividade de determinados tratamentos quimioterápicos.
A maioria das pacientes havia sido diagnosticada com tumores com receptores hormonais positivos (65%) e já estavam na pós-menopausa (52%). Além disso, elas tinham idade média de pouco mais de 51 anos e foram acompanhadas por períodos médios de 7,7 anos. Nesse ínterim, foram registrados 310 episódios de progressão da doença e 222 mortes. A partir do recrutamento, as pacientes foram convidadas a responder questionários que consideravam seus hábitos de vida em momentos variados:
- Um mês antes do diagnóstico.
- Assim que o tratamento foi encerrado.
- Aproximadamente um ano após o início do acompanhamento no estudo
- Aproximadamente dois após o início do acompanhamento no estudo
Para responder ao questionário seguinte, a paciente deveria ter, claro, respondido às questões da anterior. As perguntas que compunham o formulário envolviam questionamentos sobre hábitos como:
- Manutenção da prática regular de atividades físicas (que deveriam acumular, ao menos, 150 minutos por semana)
- Variação da massa corporal (por meio do cálculo do IMC, o Índice de Massa Corporal).
- Dieta com o consumo de alimentos diversos, como frutas, legumes e verduras.
- Limitação no consumo de carnes vermelhas ou processadas.
- Redução na ingestão de bebidas açucaradas.
- Deixar de fumar e reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas.
Foram determinadas também escalas que indicavam a intensidade da adesão a cada hábito. Logo, a avaliação das respostas apontava se a aderência havia sido intensa, moderada ou insuficiente. Finalmente, foi possível estabelecer qual correspondência desses hábitos com episódios de recorrência e índices de mortalidade.
O que as principais conclusões indicam sobre a adesão de um estilo de vida saudável entre as pacientes?
A redução dos episódios de recidivas e mortalidade já destacadas na introdução apontam uma conexão significativa entre a manutenção de um estilo de vida saudável e melhores desfechos dos tratamentos. Os resultados positivos foram observados mesmo em pacientes com tumores mais agressivos (como os triplo-negativos ou HER2 positivos).
Isoladamente, cada mudança de comportamento mostrou-se mais ou menos associada na redução dos desfechos negativos. Assim, não fumar e praticar acima de 150 minutos de exercícios físicos por semana foram os fatores que mais contribuíram com a redução na mortalidade e na recorrência. De acordo com os dados coletados, cada um desses hábitos contribuiu, em média, com uma redução de aproximadamente 45% no risco de morte e 35% na chance de recidiva.
Por outro lado, uma adesão parcial ou completa na redução do consumo de carne vermelha ou processada apontou para uma redução na mortalidade, mas não na recorrência. Por fim, a adesão isolada à redução ao consumo de álcool e a manutenção do peso não indicaram benefícios significativos.
O que isso pode significar na prática?
Acima de tudo, os resultados do estudo mostram que hábitos relativamente simples e sem maiores custos adicionais antes, durante e depois do tratamento ajudam a reduzir a mortalidade e a chance de o câncer voltar. Tal constatação pode ser relevante até mesmo para casos graves da doença, que não costumam responder bem aos tratamentos mais utilizados.
Em suma, isso reforça a necessidade de que profissionais de saúde orientem as pacientes que recebem a notícia do diagnóstico do câncer de mama sobre um estilo de vida mais saudável. Além disso, é fundamental fornecer suporte a essas mulheres para que elas consigam ampliar a adesão a esses comportamentos saudáveis.
Aproveite e confira algumas dicas de como deve ser a alimentação durante o tratamento de câncer de mama, uma parte importante na promoção de hábitos saudáveis nesse período.