É muito comum, em casos de mulheres jovens diagnosticadas com câncer de mama, surgirem questionamentos e dúvidas, como: é possível engravidar depois de um câncer de mama? Existe um risco maior de recorrência da doença se a paciente engravidar? Antes de mais nada, é importante esclarecer que sim, é possível engravidar após tratar um câncer de mama.
Agora, um recente estudo afirma também que mulheres com mutação BRCA1 ou BRCA2 que engravidam após serem tratadas para câncer de mama não têm maior risco de recorrência do câncer de mama e seus bebês podem ser saudáveis. A pesquisa foi publicada pelo Journal of Clinical Oncology e afirma que a gravidez é segura nestes casos.
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O BRCA1 e o BRCA2 são dois dos genes mais conhecidos que podem sofrer mutação e aumentar o risco de câncer de mama. Quando não sofrem mutação, eles têm um papel fundamental na reparação das células danificadas, impedindo seu crescimento anormal. Mas, quando tem mutação, não funcionam normalmente e o risco de câncer de mama aumenta. O câncer acontece justamente quando uma célula se multiplica descontroladamente.
De acordo com o Breastcancer.org, mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 podem ser responsáveis por até 10% de todos os casos de câncer de mama.
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Com o objetivo de avaliar os desafios reprodutivos de mulheres com mutações BRCA e que tiveram câncer de mama, pesquisadores realizaram um estudo com 1.252 pacientes. As participantes haviam sido diagnosticadas com câncer de mama quando tinham 40 anos ou menos, entre 2000 e 2012.
Os desfechos primários foram sobrevida da doença e taxa de gravidez. Já os desfechos secundários foram sobrevida global, fetais e obstétricos.
O que aconteceu com as participantes do estudo?
Os pesquisadores identificaram várias características das pacientes que participaram do estudo.
- Mais de 78% eram europeias;
- 65% tinham uma mutação BRCA1;
- 34% tinham uma mutação BRCA2;
- 0,9% tinham mutações BRCA1 e BRCA2;
- Cerca de 95% tinham sido tratadas com quimioterapia.
Casos de gravidez
O acompanhamento médio das pacientes foi de 8,3 anos. Ao todo, 195 pacientes engravidaram. Segundo a pesquisa, foi possível concluir que as mulheres que engravidaram após o diagnóstico do câncer de mama eram mais propensas a:
- Terem uma mutação BRCA1;
Serem diagnosticadas com câncer de mama de 2 cm ou menor e sem câncer nos linfonodos;
- Terem feito cirurgia conservadora em vez de mastectomia.
Os resultados maternos e fetais das pacientes foram semelhantes aos da população em geral.
Houve alguns casos de abortos induzidos (16) e abortos espontâneos (20). Entre as 150 pacientes que deram à luz, complicações na gravidez ocorreram em 13 casos e anomalias congênitas em dois.
Risco de recorrência
Os pesquisadores analisaram se havia alguma diferença na recorrência do câncer de mama entre as mulheres que engravidaram e as que não engravidaram. Mas não houve diferença nas taxas de recorrência.
Sobrevida global
O estudo também não encontrou diferenças na sobrevida entre as pacientes que engravidaram e as que não engravidaram.
“Em conclusão, esse estudo fornece evidências tranquilizadoras de que a gravidez após câncer de mama em pacientes com mutações do BRCA na linha germinativa é segura, sem piora aparente do prognóstico materno e está associada a resultados fetais favoráveis”, escreveram os pesquisadores.
“Essas descobertas são de suma importância para os profissionais de saúde envolvidos no aconselhamento de pacientes jovens com câncer de mama com mutação do BRCA que indagam sobre a viabilidade e segurança de concepção futura”, concluíram.
De acordo com Elizabeth Wulff-Burchfield, MD, Professora Assistente nas Divisões de Oncologia Médica e Medicina Paliativa da University of Kansas Medical Center, que debateu esse estudo no Best of ASCO Austin, as descobertas podem impactar a prática clínica. Mas lacunas de conhecimento significativas permanecem e ainda devem ser divulgadas e tratadas com os pacientes. Segundo a doutora, ainda são necessários estudos com acompanhamentos mais longos para mais conclusões.
Portanto, é importante entender que a situação de cada mulher é única. Se você está pensando em engravidar após o tratamento do câncer de mama, converse com seu médico para saber o que é melhor para o seu caso.