Gravidez e câncer de mama são dois tópicos que sempre geram dúvidas quando aparecem juntos. É comum que muitas pacientes recebam a orientação de não tentar uma gestação mesmo após finalizado o tratamento contra o tumor. Contudo, tal determinação traz impactos significativos na vida de mulheres (e casais) que têm o desejo de conceber uma criança. Além disso, ela parece contrariar o que apontam algumas novas evidências.
É o caso, por exemplo, de um estudo, apresentado na 38ª reunião da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Ele mostra que pacientes que completaram um tratamento contra um câncer de mama, e depois engravidaram, não sofreram impactos na sobrevida se comparadas às mulheres que não engravidaram após o tratamento – ou mesmo antes do diagnóstico.
O que se sabe sobre a relação entre gravidez e câncer de mama
São vários os aspectos que devem ser avaliados quando se analisa de que maneira a intenção de engravidar pode afetar a saúde de uma mulher que finalizou o tratamento contra um tumor na mama.
O primeiro deles diz respeito à própria fertilidade: alguns tratamentos podem afetar a capacidade de engravidar de muitas pacientes, com causas que vão desde efeitos colaterais provocados por alguns quimioterápicos até a infertilidade causada por terapias hormonais. Além disso, caso a gravidez seja um sucesso, dificuldades fisiológicas e hormonais também podem prejudicar a amamentação adequada.
Apesar disso, no fim das contas, são os hormônios a principal preocupação de uma gravidez pós-câncer de mama: as alterações hormonais no corpo da gestante estariam, em tese, associadas a um aumento na chance de recidivas (ou seja, do retorno do tumor).
O que diz o novo estudo
Para ampliar as evidências sobre uma questão que ainda causa controvérsia entre os médicos, um grupo de oncologistas do Reino Unido levantou dados para responder se dar à luz após o tratamento contra um câncer de mama afeta o período de sobrevida das pacientes. Para isso, os pesquisadores coletaram informações a partir dos registros de maternidades na Escócia e bases de dados a respeito dos casos de câncer de mama naquele país, de forma retrospectiva.
A partir disso, foram reunidas as informações de mulheres com menos de 40 anos que haviam sido diagnosticadas com câncer de mama entre os anos de 1981 e 2017. Em seguida, os pesquisadores cruzaram tais registros com as gestações indicadas nos prontuários das maternidades. Foram incluídas na análise todas as gravidezes até o final de 2018.
Ao fim da coleta dos dados, foram encontrados 5181 casos de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos, das quais 290 deram à luz após o tratamento. Foram excluídas amostra de 70 gestantes que receberam o diagnóstico da doença durante a gestação.
Com os dados em mãos, a principal conclusão dos pesquisadores foi de que mulheres que engravidaram após o fim do tratamento tiveram uma sobrevida maior do que aquelas que não passaram por uma gestação. Além disso, mulheres que engravidaram pela primeira vez após o tumor sobreviveram por um período maior do que aquelas que já tinham engravidado antes da doença. No mais, mulheres jovens com câncer de mama que engravidam após o tratamento alcançaram uma sobrevida maior que mulheres mais velhas que também engravidaram com o tratamento finalizado.
O que isso pode representar na prática
Logo, a partir desse estudo, é possível concluir que a gravidez pós-câncer de mama não afeta a sobrevida das pacientes que já finalizaram o tratamento. Isso é uma ótima notícia, já que não contraindicaria que as mulheres que desejam ser mães não sigam com sua intenção.
Seja como for, é fundamental que as pacientes se comuniquem com o médico sobre o seu desejo de engravidar. Além de ajudar a dimensionar os riscos que podem envolver tal escolha, o profissional pode fornecer orientações valiosas inclusive sobre métodos para contornar eventuais problemas de fertilidade.
É provável que gravidez e câncer de mama ainda seja um assunto muito discutido, tanto por pesquisadores, quanto por médicos e pacientes. Desse modo, é fundamental colocar a vontade dos pacientes no centro das preocupações e levar em conta tudo o que cerca essa decisão, agindo para minimizar eventuais riscos. Ainda assim, os resultados obtidos pelo estudo não deixam de ser boa notícia!
Aproveite e veja que outro estudo não encontrou ligação entre tratamentos de fertilidade e risco maior de câncer de mama.