Embora quimioterápicos sejam recursos importantes como parte de muitos tratamentos para eliminar um câncer de mama, médicos e pacientes devem estar cientes dos possíveis efeitos colaterais da quimioterapia. Isso considera, inclusive, aqueles que perduram por meses ou anos após o fim da intervenção.
Nesse contexto, um estudo publicado no periódico Complementar Therapies in Clinical Practice mostrou que a utilização de música pode contribuir para minimizar os danos causados pelo tratamento sobre a cognição da paciente, o que recebe o nome de chemobrain.
Os efeitos colaterais da quimioterapia sobre a cognição
Chemobrain é termo oriundo da união de duas palavras em inglês: chemo, de chemotherapy (quimioterapia na tradução para o português) e brain (de cérebro, em português). Assim sendo, esse conceito é utilizado para determinar aquilo que os especialistas também chamam de comprometimento cognitivo relacionado ao câncer.
Seja qual for o conceito utilizado, todos eles englobam problemas de memória, concentração e processamento de informações, o que pacientes alegam perceber durante e depois do tratamento quimioterápico. Entre alguns dos sintomas recorrentes deste tipo de “névoa mental” estão também:
- Fadiga.
- Sensação de lentidão no raciocínio.
- Problemas para se lembrar coisas.
- Queda na produtividade no dia a dia, inclusive por conta da redução na capacidade de finalizar tarefas.
- Dificuldades no uso da linguagem ou mesmo em aprender novas habilidades
Esses efeitos colaterais da quimioterapia podem demorar meses ou anos para desaparecer. O grau de comprometimento gerado por eles varia bastante de paciente para paciente. De qualquer maneira, o comprometimento à qualidade de vida por conta do chemobrain pode ser significativo
Estima-se que até 75% das pacientes que sobrevivem a um câncer de mama vão apresentar alguma queixa do tipo. No entanto, não se sabe muito bem quais processos estão por trás desse tipo de prejuízo à função cognitiva.
Ademais, ele tende a ser mais relevante quando se leva em conta que nem sempre essa é uma questão discutida entre médicos e pacientes, em qualquer que seja o momento da jornada para combater o tumor.
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Outro ponto relevante a respeito do chemobrain é que, até o momento, não há tratamentos específicos para lidar com tais alterações. Em geral, as pesquisas sobre o tema avançam principalmente em abordagens não farmacológicas, envolvendo algumas terapias comportamentais para amenizar os sintomas relatados.
Foi nesse contexto que uma abordagem utilizando música destacada na introdução demonstrou resultados iniciais promissores. Para isso, foi reunido um grupo de 27 mulheres diagnosticadas com câncer de mama no passado, tratadas com quimioterapia, e que apresentavam queixas cognitivas. Essas pacientes:
- Tinham entre 21 e 75 anos.
- Foram diagnosticadas com tumores na mama de diferentes estágios.
- Haviam deixado de receber a quimioterapia adjuvante entre períodos que variavam de três meses a cinco anos.
- Relataram pelo menos cinco sintomas de alteração cognitiva, de acordo com os questionários aplicados.
Depois de selecionadas para o estudo, as pacientes foram divididas em dois grupos: o primeiro foi orientado a ouvir sessões de 12 minutos de música clássica, todos os dias, por oito semanas. O segundo grupo recebeu recomendação similar, mas o conteúdo das audições era diferente. Nesse caso, elas foram orientadas a ouvir uma espécie de meditação guiada.
Posteriormente, ao final do período de análise, ambos os grupos apresentaram algum tipo de melhora. Foi possível observar, por exemplo, ganhos na memória, na concentração e na capacidade de resolver problemas.
Todavia, quem ouviu música ao longo das semanas apresentou melhorias mais notáveis do que quem seguiu o áudio com a meditação, principalmente com relação à percepção de fadiga e estresse.
Embora os autores do estudo não sejam capazes de explicar os motivos dessas melhorias, é provável que elas tenham relação com o fato de que ambas as atividades envolvem algum tipo de exercício da capacidade de concentração, estimulando determinadas estruturas do cérebro.
Outras perspectivas para lidar com os efeitos da quimioterapia
Ainda que sejam resultados iniciais, investigar os benefícios obtidos com a audição de música vão sempre no sentido de encontrar formas efetivas, acessíveis e possivelmente de baixo custo para lidar com os prejuízos cognitivos relatados depois da quimioterapia.
Não por menos, avaliações feitas utilizando diferentes técnicas de meditação, yoga ou mesmo exercícios regulares também vêm sendo experimentadas. Os resultados são promissores, mas dependem das circunstâncias, e podem, neste sentido, orientar novas investigações futuras.
Seja como for, diante do temor dos possíveis impactos dos efeitos colaterais da quimioterapia, é importante que médicos e pacientes discutam o tema adequadamente, inclusive para acolher e procurar abordagens capazes de minimizar as queixas relatadas. No mais, o acompanhamento profissional pode ser importante diante da presença de outros transtornos mentais, como ansiedade e depressão, o que também pode explicar as disfunções cognitivas.
Aproveite e veja como alguns aspectos que dizem respeito à qualidade de vida da paciente podem influenciar na tolerância ao tratamento quimioterápico.