Não é novidade que, embora importantíssimos, medicamentos quimioterápicos podem gerar efeitos colaterais, o que inclui a chamada neuropatia pós-quimioterapia. Essa condição causa uma série de comprometimentos que frequentemente incluem a dor, capaz de persistir por semanas ou meses.
Ainda que o impacto seja significativo, muito ainda precisa ser mais bem investigado sobre tal consequência negativa.
Nesse sentido, pesquisadores de universidades norte-americanas reuniram dados sobre a incidência dos episódios dolorosos crônicos, o que permite dimensionar melhor o impacto disso sobre a qualidade de vida dos pacientes. O artigo sobre o tema foi publicado em 2025, no periódico Regional Anesthesia & Pain Medicine.
O que é a neuropatia pós-quimioterapia
Neuropatia periférica é o termo médico utilizado para descrever condições que afetam os nervos que ficam alojados fora do cérebro ou da medula espinhal. Dessa forma, a disfunção atinge com mais intensidade os braços e as pernas.
Existem inúmeras causas para um episódio de neuropatia periférica (diabetes, alterações autoimunes, traumas e lesões etc.). Além disso, a condição pode ser provocada pela toxicidade dos fármacos utilizados nas sessões de quimioterapia.
Tal manifestação recebe o nome de neuropatia periférica induzida por quimioterapia (ou NPIQ). Essa é uma causa frequente para a redução das doses ou mesmo interrupção do tratamento quimioterápico, muito por conta de sintomas que incluem:
- Dor.
- Formigamento.
- Dormência.
- Fraqueza.
- Perda de equilíbrio.
- Fadiga.
- Redução da sensibilidade da pele para mudanças de temperatura.
A intensidade e a presença dos sintomas variam caso a caso. De acordo com estimativas de estudos anteriores, 70% dos pacientes oncológicos experimentam um quadro de NPIQ no primeiro mês de tratamento. No recorte de três meses, a incidência cai para 60% e, em seis meses, a proporção é de 30%.
Não existe tratamento específico para essa queixa. A combinação de fisioterapia, medicamentos e medidas de medicina integrativa (massagens, acupuntura etc.) são os recursos mais utilizados.
Os especialistas também apontam que determinados quimioterápicos (como taxanos e compostos à base de platina, frequentemente utilizados no manejo de tumores na mama) têm maior chance de influenciar no aparecimento da neuropatia. Contudo, os mecanismos por trás disso ainda não são claros.
Como esse tipo de incômodo pode persistir por longos períodos
Algo que também ainda não é claro é por quanto tempo os sintomas envolvendo a dor podem persistir entre aqueles afetados pela neuropatia pós-quimioterapia.
Para responder essa pergunta, os autores do artigo destacado na introdução foram atrás de dados sobre o tema para compor uma revisão sistemática que pudesse dar mais informações a respeito dessa questão.
Ao todo, a análise foi feita com base em 77 estudos publicados entre 2000 e 2024. Eles englobaram um universo de mais de 10 mil indivíduos de 28 países, com diferentes diagnósticos oncológicos. A maioria dos levantamentos foi feita com pacientes com câncer colorretal (25 estudos) e de mama (17 estudos).
No fim, os autores conseguiram determinar que cerca de 4.400 pacientes (ou seja, em torno de quatro a cada dez) apresentam dor associada à neuropatia periférica induzida pela quimioterapia por pelo menos três meses, caracterizando um quadro crônico.
Aqueles tratados justamente com agentes de platina e taxanos tiveram maior registro dessa cronicidade. Enquanto isso, pacientes com câncer de pulmão foram os mais atingidos pelo sintoma persistente em 62% dos casos.
A menor incidência foi notada em episódios de câncer de ovário e em linfomas. Não houve variações significativas entre homens e mulheres, mas a oscilação foi notável conforme a região em que o indivíduo tratado estava. Asiáticos eram mais suscetíveis à neuropatia com dor crônica do que europeus, por exemplo.
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O que essas informações significam para médicos e pacientes
Embora relevante, a conclusão apresentada no estudo apresenta limitações. A primeira delas é que ele compara dados obtidos a partir de diferentes metodologias, fazendo com que a solidez das evidências apresentadas seja baixa.
Além disso, há grupos sub-representados, o que faz com que pacientes da América do Sul, da África e da Ásia apareçam em número menor do que o adequado.
De qualquer maneira, o insight obtido a partir da investigação reforça a necessidade de que a neuropatia periférica seja sempre considerada no acompanhamento de um paciente passando pelas sessões de quimioterapia.
Assim, é possível avaliar precocemente a presença de neuropatia pós-quimioterapia, que como demonstrado pode persistir por meses, e propor intervenções capazes de promover uma maior qualidade de vida, sem que seja necessário interromper ou diminuir as doses da terapia.
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