Um novo estudo apresentado na reunião virtual de 2020 da Sociedade Americana de Oncologia Clínica afirma que o omeprazol pode ser uma adição útil ao tratamento do câncer de mama triplo negativo. De acordo com a pesquisa de fase 2, o omeprazol, inibidor da bomba de prótons (PPI, sigla em inglês), aumenta a taxa esperada de desaparecimento do tumor entre mulheres com doença em estágio inicial.
Os pesquisadores realizaram o estudo baseados no conhecimento de que os inibidores da bomba de prótons inibem a enzima ácido graxo sintase (FASN, sigla do inglês, Fatty Acid Synthase), muito presente em 70% dos casos de câncer de mama triplo negativo recém-diagnosticados e associada a mau prognóstico.
Métodos do estudo
Ao todo, 42 mulheres foram recrutadas em cinco centros dos Estados Unidos. A idade média era de 51 anos. Com isso, o omeprazol, um medicamento genérico usado para refluxo gastroesofágico, foi adicionado à quimioterapia padrão dessas pacientes. Esse esquema terapêutico foi administrado como tratamento neoadjuvante nas semanas anteriores à cirurgia de mama.
Todas as pacientes do estudo tinham câncer de mama triplo negativo ressecável em estágio inicial (com e sem presença de FASN no início do estudo). Além disso, não haviam sido tratadas com inibidor da bomba de prótons nos 12 meses anteriores ao trabalho.
Elas começaram tomando omeprazol em altas doses diárias durante quatro a sete dias antes do início da quimioterapia neoadjuvante AC-T (o acréscimo da carboplatina foi permitido, de acordo com o critério do médico) e continuaram até a cirurgia.
Resultados do acréscimo de omeprazol ao tratamento
A taxa de resposta patológica completa (pCR) foi de 71% na população do estudo. Isso é mais alto que os 40% tipicamente observados em pacientes tratadas com AC-T padrão (adriamicina + ciclofosfamida + algum taxano).
Segundo o estudo, nas 28 pacientes com FASN+, a taxa de resposta patológica completa foi de 71,4% e em todas as 42 pacientes foi 71,8%. O objetivo dos pesquisadores inicialmente era alcançar uma taxa de resposta patológica completa de 60% nas pacientes FASN+.
“É emocionante“, disse o Dr. Sagar Sardesai, oncologista do Ohio State Comprehensive Cancer Center, nos EUA, em uma entrevista ao Medscape. “No geral, pacientes triplo negativos que atingem a resposta patológica completa têm um desfecho muito bom.” Segundo o pesquisador, esse desaparecimento completo do tumor é um substituto para a sobrevida global no câncer de mama triplo negativo e as pacientes que o atingem têm um risco muito reduzido de recorrência ou morte.
Enzima ácido graxo sintase e sua relação com câncer
O Dr. Sagar explicou que a enzima ácido graxo sintase (FASN) ajuda a gerar ácidos graxos essenciais para a sobrevivência das células cancerígenas. A FASN é encontrada principalmente em tecidos com muitos hormônios, como o endométrio, a próstata e a mama.
Os inibidores da bomba de prótons “inibem seletivamente a atividade da FASN e induzem a apoptose (morte celular programada) das células do câncer de mama com efeito mínimo nas células que não são malignas”, escreveram os autores do estudo.
A FASN tem sido um possível alvo terapêutico no câncer de mama triplo negativo há entre 10 e 15 anos. Mas a primeira evidência clínica de eficácia em tumores sólidos só foi vista nos últimos cinco anos.
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Entenda melhor a quimioterapiaMais estudos são necessários
De acordo com o autor Sagar, o omeprazol foi bem tolerado e sem toxicidade de grau 3 ou 4. A toxicidade da quimioterapia foi semelhante à de estudos anteriores de AC-T. Os inibidores da bomba de prótons têm efeitos colaterais, como aumento do risco de infecções, osteoporose e magnésio baixo, se tomados por mais de um ano, comentou o pesquisador.
No entanto, especialistas indicam que, apesar da descoberta ser muito interessante, é necessário um estudo randomizado em maior escala. Os pesquisadores estão buscando financiamento do Instituto Nacional do Câncer ou do Departamento de Defesa dos Estados Unidos para organizar um ensaio clínico randomizado com mais de 100 pacientes.
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