Mulheres com alterações nos genes BRCA podem ter que lidar com um risco até 70% maior de ter um câncer de mama. Isso, claro, exige uma série de medidas adicionais para mitigar tais consequências. Nesse contexto, o rastreamento com ressonância magnética pode ser uma estratégia relevante.
Tal afirmação é sustentada por resultados de um estudo publicado em fevereiro de 2024 na Jama Oncology, que demonstrou que o uso desse recurso diminuiu a mortalidade por câncer de mama entre mulheres portadores de mutações no gene BRCA1.
Embora mais estudos precisem ser feitos, tais resultados podem ser úteis para orientar abordagens capazes de salvar vidas, mesmo diante da probabilidade maior de ter a doença.
O impacto dos genes BRCA no risco do câncer de mama
De forma bastante resumida, os genes BRCA 1 e 2 (sigla em inglês para “gene do câncer de mama 1 e 1”) têm como função reparar DNA danificado resultado da multiplicação celular. Com isso, eles são chamados de genes supressores de tumores.
No entanto, algumas mulheres podem apresentar mutações que fazem com que os genes em questão não desempenhem essa função de forma adequada. A partir disso, com o tempo, é mais provável que um erro no material genético se dissemine sem o devido reparo, desencadeando a formação de tumor.
Além do câncer de mama, alterações nos genes BRCA já foram associadas a um maior risco de tumores nos ovários, inclusive em mulheres mais jovens.
Tais alterações são herdadas dos pais, de forma aleatória. É possível identificá-las por meio de testes genéticos específicos, que podem ser importantes em alguns contextos. Entretanto, eles não são recomendados para todas as mulheres e devem ser avaliados e orientados por um profissional capacitado.
Assim sendo, a partir da identificação da presença dos genes BRCA1 e 2, a paciente pode receber a recomendação de reforçar medidas de prevenção, acompanhamento ou mesmo profilaxia do câncer de mama.
O papel do rastreamento do câncer de mama no diagnóstico precoce
As principais autoridades em oncologia e mastologia recomendam que, na média, as mulheres devem passar pela primeira mamografia aos 40 anos, mesmo sem qualquer suspeita de um câncer mamário.
Esse exame, relativamente simples, pode ajudar a identificar lesões malignas em estágios iniciais. Com isso, qualquer suspeita pode ser devidamente investigada e, se confirmada a presença de um tumor, tratada com mais chance de sucesso.
No entanto, mulheres com alterações nos genes BRCA tendem a receber recomendações para início do rastreamento por volta dos 30 anos. Além disso, nesses casos pode ser necessário incluir na programação de exames o uso da ressonância magnética e prosseguir com isso nos anos seguintes.
Ao mesmo tempo, o emprego das ressonâncias de forma isolada não costuma ser indicado para rastrear um possível caso de câncer de mama.
Apesar de mais sensível e capaz de identificar alterações que, muitas vezes, passam despercebidas na mamografia, a adoção desse instrumento pode ampliar o número de falsos-positivos. Em outras palavras, isso descreve situações em que alterações que não necessariamente sejam câncer chamam a atenção.
Diante desse cenário, os responsáveis pelo artigo mencionado na introdução queriam saber qual o impacto dos programas de rastreamento utilizando a ressonância magnética no risco de óbito por câncer de mama entre pacientes com alterações nos genes BRCA.
Como o uso da ressonância magnética pode influenciar no benefício do rastreamento
Para obter uma resposta, os pesquisadores acompanharam:
- 2004 mulheres com mutações nos genes BRCA1.
- 484 mulheres com mutações nos genes BRCA2.
As voluntárias foram recrutadas em 11 países do hemisfério norte. Desse total, pouco mais de 70% da amostra (cerca de 1700 mulheres) foi submetida a pelo menos uma ressonância magnética no período do estudo. As demais mantiveram medidas de rastreamento sem o uso do recurso.
Todas as voluntárias também respondiam formulários, que além de condições gerais de saúde, incluíam a coleta de informações sobre o uso de hormônios, cirurgias e os exames feitos ao longo dos anos.
No fim, os números de diagnósticos e mortes por câncer de mama também foram registrados. Assim sendo, os dados coletados permitiram observar que:
- Entre as pacientes que tiveram rastreamento utilizando as ressonâncias magnéticas foram registrados 241 casos de câncer de mama e 14 óbitos.
- Já entre as mulheres que não passaram pelas ressonâncias, o número de casos foi de 109, enquanto o óbito pela doença atingiu 21 pacientes.
Fazendo as devidas ponderações, foi possível concluir que entre pacientes com alterações nos genes BRCA1, o risco de morte por câncer de mama foi cerca de 80% menor quando as ressonâncias eram utilizadas de forma rotineira. Todavia, tal benefício não foi notado nas mulheres com mutação no BRCA2.
Em um período de 20 anos, o rastreamento com ressonância magnética fez com que o risco cumulativo de óbito por câncer de mama caísse para 3,2% entre esse grupo de pacientes. Enquanto isso, quem não contou com esse recurso registrou um patamar de 14.9% de chance de mortalidade pela doença.
Aproveite e veja também como a falta de acesso à mamografia contribui para elevar a mortalidade por câncer de mama.
2 Comments
Informações importantes sobre o assunto! Temos o direito de saber o que ocorre conosco quando temos uma doença como o câncer, podermos optar pela melhor forma de tratamento e conhecer quais são elas.
Olá, Maria, agradecemos o comentário. O acesso à informação é muito importante. Aqui no site temos também uma série de vídeos ilustrados com explicações de diferentes conceitos sobre câncer de mama: https://silviobromberg.com.br/jornada-cancer-de-mama/