Rastreamento por mamografia pode gerar excesso de diagnósticos de câncer de mama
A mamografia é um dos exames mais indicados para o rastreamento do câncer de mama nas mulheres com mais de 40 anos ou que tenham histórico da doença na família e necessitem de um acompanhamento precoce. Mas segundo um estudo publicado por um grupo de pesquisadores do Dartmouth Medical Center e do National Cancer Institute no New England Journal of Medicine, o rastreamento nem sempre traz só benefícios na detecção da doença.
Isso porque existem casos em que a mamografia, por ser um exame de alta sensibilidade, tem a capacidade de detectar pequenos tumores que podem não evoluir e não apresentar sintomas clínicos. Dessa maneira, muitas mulheres podem estar sendo submetidas a cirurgias ou procedimentos como quimioterapia ou radioterapia sem necessidade.
Os pesquisadores analisaram dados de registros de cânceres de mulheres norte-americanas com 40 anos de idade ou mais, concentrando-se no tamanho do tumor, e levantaram a hipótese de que um programa de rastreio eficaz reduziria o número de grandes tumores detectados e aumentaria proporcionalmente o número de pequenos tumores. Eles descobriram que a triagem aumentou a proporção de pequenos tumores in situ e tumores invasivos menores que 2 cm de 36% para 68%, e diminuiu a proporção de tumores maiores detectados de 64% para 32%.
A incidência de tumores maiores diminuiu em 30 casos por 100 mil mulheres, enquanto a incidência de tumores menores aumentou em 162 por 100 mil. Estes dados indicam que 132 tumores de mama em cada 100 mil mulheres recém-diagnosticadas representam o excesso de diagnósticos.
O estudo mostrou ainda que a evolução no tratamento do câncer de mama é responsável por pelo menos dois terços da redução da mortalidade ao longo do tempo, enquanto a triagem é responsável por um terço. Segundo os pesquisadores, o tamanho do tumor já não é mais tão importante para o prognóstico do câncer de mama quanto as características biológicas e genéticas que ele apresenta.
Uma possível explicação para a contribuição relativamente pequena do rastreio para a sobrevivência melhorada é que muitos dos tumores pequenos que são detectados por rastreio têm uma biologia favorável, com crescimento lento e boa resposta ao tratamento.
Na opinião de alguns especialistas, o rastreio do câncer deve ser priorizado entre as pessoas que têm maior risco de desenvolver a doença, em vez de analisar amplamente a população em geral, na qual a maioria das pessoas tem um risco menor de vir a desenvolver a doença.
A seleção personalizada baseada em risco foi defendida por outros especialistas, incluindo os autores de uma meta-análise de 2014 de 50 anos de dados de rastreamento de câncer de mama.
Há controvérsia sobre o custo/benefício do screening mamográfico, que vem sendo discutida há anos e até hoje ainda não existe um consenso mundial a respeito. Nos Estados Unidos, as diversas sociedades (American Cancer Society, Radiology American Society, US Tak Force, etc.) tem recomendações diferentes quanto ao tempo de rastreio, idade de início e periodicidade do mesmo.
No Brasil, cerca de 45% dos diagnósticos de casos de câncer de mama estão abaixo dos 50 anos, o que justifica em nosso país iniciarmos o rastreio anual a partir dos 40 anos (na população de risco padrão).