Todos os anos, só no Brasil, mais de 70 mil mulheres são diagnosticadas com um tumor mamário, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Felizmente, com o avanço dos tratamentos, parte considerável tem boas chances de se recuperar. Ainda assim, o medo da recorrência do câncer de mama ainda é uma constante.
E isso se repete em outras partes do mundo, mesmo quando os índices de recuperação da doença atingem patamares próximos a 90%.
Sendo assim, o que médicos e pacientes podem fazer para reverter eventuais prejuízos associados a essa sensação? É isso o que vamos abordar ao longo deste conteúdo!
O que define um episódio de recorrência do câncer de mama
A recorrência do câncer de mama (também chamada de recidiva) é o nome dado aos episódios em que a doença retorna depois que o tratamento foi finalizado e já não se identificava mais a presença do tumor. Na prática, isso tende a acontecer meses ou anos depois do diagnóstico inicial.
O risco de que isso aconteça varia muito de paciente para paciente. Entram na conta elementos como tipo e estágio do diagnóstico inicial, idade, fatores genéticos, terapias empregadas e tempo transcorrido desde então.
Num possível exemplo, um tumor inicial diagnosticado mais tarde e com tamanho maior provavelmente tem mais chances de uma recorrência do que um tumor em estágio inicial, mesmo depois do fim do tratamento.
Seja como for, a Sociedade Norte-Americana do Câncer classifica as recidivas dentro de três categorias, conforme a nova área afetada.
- Locais, que surgem na mesma área do primeiro câncer.
- Regionais, em áreas próximas (geralmente nos gânglios linfáticos da axila).
- Distantes, abarcando localidades variadas do corpo, assumindo um caráter metastático.
Nos casos de câncer de mama, é importante ressaltar que um novo tumor na mama oposta (chamado de contralateral) não é considerado uma recidiva. Na prática, ele é encarado como um novo episódio da doença.
O que se sabe sobre o impacto do medo sobre a vida diária
Mesmo com o sucesso do tratamento, é impossível garantir que a doença não vai retornar. Portanto, é natural que isso gere algum grau de ansiedade entre as pacientes, inclusive muito tempo depois de alcançar a remissão.
Não por menos, um estudo publicado em 2024 no periódico Supportive Care In Cancer mostrou que mulheres nesse estágio encaram essa emoção de modo quase que diário, em diferentes esferas da vida.
Por meio de questionários destinados a mensurar justamente o medo das recidivas, um grupo de 384 mulheres foi ouvido sobre o tema. Para quase 3/4 das entrevistadas, esse temor era moderado ou elevado. No fim, os dados reunidos mostraram que elas alegavam prejuízos a esferas individuais que incluem:
- Fatores emocionais.
- Componentes comportamentais.
- Aspectos cognitivos.
- Relacionamentos.
- Vida profissional.
Os pesquisadores também apontaram que a maioria das pacientes relatava tentar adotar alguma estratégia para lidar com esse receio (como comer melhor, praticar exercícios etc.).
No entanto, quanto maior o grau de medo da recorrência, maior parecia ser a intensidade de estratégias vistas como evitativas (não fazer nada, tentar não pensar no assunto etc.).
Tais resultados complementam outros levantamentos anteriores. Dados compilados de 46 estudos envolvendo 11.226 sobreviventes de câncer de 13 países mostraram que 58,8% das sobreviventes apresentaram receio significativo. O artigo foi publicado na revista Psycho-Oncology em 2022.
Por fim, outra publicação no mesmo periódico, dessa vez em 2023, ressaltou como a possibilidade da recorrência do câncer de mama está conectada a complicações de saúde mental, como ansiedade, estresse e sintomas depressivos.
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As principais recomendações para gerenciar o sentimento
Não existe modo único de encarar a questão. Porém, é possível adotar algumas estratégias que aliviam a angústia em torno de uma possível recidiva.
De um lado, os profissionais de saúde devem adotar uma abordagem empática e personalizada no cuidado de sobreviventes de câncer, começando por normalizar e validar seus medos como preocupações legítimas.
Além disso, é essencial conduzir conversas sobre como tal temor está influenciando a rotina. Isso contribui para identificar quando o encaminhamento para a assistência psicológica é necessário.
Os oncologistas também devem educar os pacientes sobre adversidades reais e desenvolver planos de cuidado baseados no nível de risco individual de cada sobrevivente.
Do lado das pacientes, as sugestões mais pertinentes para driblar esses obstáculos incluem:
- Usar o medo como motivação para manter hábitos saudáveis como exercitar-se, seguir dieta uma balanceada e diminuir o consumo de álcool.
- Reduzir comportamentos de risco como tabagismo, sedentarismo e obesidade.
- Buscar apoio de outras pacientes que passaram pela mesma experiência para compartilhar diferentes perspectivas sobre o tema.
- Procurar ajuda profissional, inclusive de especialistas em saúde mental, quando o medo começar a interferir significativamente na qualidade de vida ou funcionamento diário.
Assim sendo, ainda que o medo da recorrência do câncer de mama seja uma constante em boa parte das pacientes, existem formas eficientes de lidar com ele ao mesmo tempo em que se mantém uma vida saudável e produtiva.
Aproveite e entenda agora como exercícios para pacientes com câncer de mama podem melhorar a qualidade de vida e reduzir custos com saúde.