Pela primeira vez, uma sobrevivente de câncer de mama deu à luz a um bebê depois de ter coletado seus óvulos imaturos, amadurecido em laboratório e congelado. Apesar de ser cada vez mais comum congelar óvulos, o método utilizado por esta paciente foi diferente e incluiu nova técnica. O caso aconteceu na França e ressalta o debate sobre a preservação da fertilidade em pacientes jovens com câncer.
A mulher, agora com 34 anos, foi diagnosticada, aos 29 anos, com carcinoma ductal invasivo positivo para receptores de estrogênio e progesterona, negativo para HER2, grau III, na mama esquerda, e também um linfonodo positivo. Ela passou por quimioterapia, colocando-a em risco de perder a fertilidade. O caso foi publicado na revista Annals of Oncology.
Opções para conseguir engravidar após câncer
A equipe médica desta paciente havia descartado o procedimento padrão de fertilização in vitro para estimular os ovários a produzir óvulos, pois se preocuparam com a possibilidade de exacerbar o câncer. Havia outra opção, que era remover e congelar parte do tecido ovariano da paciente e reimplantá-la quando ela se recuperasse, mas a paciente não quis pois achou o procedimento muito invasivo.
Desta forma, a paciente optou pela recuperação de óvulos em estágio inicial de seus ovários. O procedimento é chamado de maturação in vitro (IVM). A partir da coleta, os óvulos foram amadurecidos em laboratório por um ou dois dias, e depois vitrificados, processo que congela rapidamente as células em nitrogênio. O objetivo disso é reduzir as chances de formação e ruptura de cristais de gelo.
Método de maturação e congelamento deu certo
Cinco anos depois, segundo artigo científico publicado, a paciente apresentou infertilidade durante um ano. Portanto, decidiu que os óvulos fossem descongelados, inseminados e implantados. Dos sete óvulos congelados, seis sobreviveram ao processo e foram fertilizados com ICSI (injeção intracitoplasmática de esperma). Cinco fertilizaram com sucesso e um embrião foi transferido para o útero da paciente. Ela ficou grávida e nove meses depois deu à luz a um menino saudável chamado Jules.
Até então, não havia gestações bem sucedidas em pacientes com câncer após óvulos submetidos à IVM e vitrificação. Algumas crianças já nasceram como resultado da IVM seguida de fertilização imediata e transferência para paciente sem congelamento.
Quando essa técnica deve ser considerada?
“Estamos cientes de que os óvulos amadurecidos em laboratório são de qualidade inferior quando comparados aos obtidos após estimulação ovariana. No entanto, nosso sucesso com Jules mostra que essa técnica deve ser considerada uma opção viável para a preservação da fertilidade feminina, idealmente combinada com a criopreservação do tecido ovariano”, professor Michaël Grynberg, chefe do Departamento de Medicina Reprodutiva e Preservação da Fertilidade do Hospital Universitário Antoine Béclère, perto de Paris, França.
Segundo o professor, a preservação da fertilidade deve sempre ser considerada como parte do tratamento para pacientes jovens com câncer. A vitrificação de óvulos ou embriões após estimulação ovariana ainda é a opção mais estabelecida e eficiente. No entanto, para alguns pacientes, a estimulação ovariana não é viável devido a necessidade de tratamento urgente do câncer ou alguma outra contra indicação. Nessas situações, o congelamento do tecido ovariano é uma opção, mas requer um procedimento laparoscópico e, além disso, em algumas doenças, corre o risco de reintroduzir células malignas quando o tecido é transplantado de volta no paciente.
Portanto, de acordo com Grynberg, a IVM permite congelar óvulos ou embriões em situações urgentes ou quando for perigoso para a paciente sofrer estimulação ovariana. Além disso, usá-los não está associado a um risco de recorrência do câncer.
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