No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é a neoplasia que mais mata mulheres em todas as regiões, com exceção do norte do país, onde tumores de colo do útero ocupam essa posição. Levando em conta que só em 2020 foram diagnosticados quase 67 mil novos casos de tumores nos seios, adotar diferentes estratégias para enfrentar tal condição faz toda a diferença.
Nesse sentido, entre outros fatores, a implementação de novos medicamentos contribuiu substancialmente na redução da mortalidade por câncer de mama, como indica um estudo apresentado durante a edição de 2022 da conferência anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês).
O contexto do estudo
Considerando o grande volume de novas opções terapêuticas disponíveis a partir de meados dos anos 90, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos se perguntou se tais novidades realmente alteraram o quadro de pacientes que passaram por tratamento contra câncer de mama entre os anos de 2000 e 2017. O estudo foi liderado por Jennifer Caswell-Jin, médica e professora assistente de oncologia da Universidade de Stanford.
Para chegar aos resultados, foram empregados 4 modelos do Cancer Intervention and Surveillance Modeling Network (CISNET). Esses modelos simularam os índices de mortalidade por câncer de mama nos Estados Unidos entre 2000 e 2017 de acordo com o uso de exames de mamografia, a eficácia e a disseminação de tratamentos para o bloqueio dos receptores de estrógeno e tratamentos específicos para HER2, tanto em estágio inicial quanto em estado metastático, além de mortes não relacionados ao câncer de mama.
A partir disso, os modelos foram comparados aos dados obtidos a partir da mortalidade alcançada com a introdução dos tratamentos em contraste com casos que não receberam nem tratamento, nem acompanhamento. Dessa forma, foi possível estimar o tamanho da redução nas taxas de mortalidade devido à implementação de novas opções terapêuticas.
Para confirmar os dados, os resultados obtidos a partir dos modelos foram comparados com os números de 3 estudos clínicos que testaram a eficácia de novas terapias, com os devidos ajustes estatísticos para que os modelos fossem compatíveis com as amostras de populações avaliadas nesses ensaios clínicos.
As principais conclusões
Com a análise dos modelos, os pesquisadores concluíram que a redução de mortalidade atribuída a tratamentos em estágios iniciais foi de 35,8% em 2000 para 48,2% em 2017. Em relação aos quadros metastáticos, a fração proporcional da redução foi de 23,9% para 20,6%, muito por conta da ampliação dos tratamentos introduzidos em estágios cada vez mais precoces.
O maior ganho devido à introdução de novos medicamentos no período das projeções foi entre diagnósticos de câncer de mama HER2+/ER+. Nesses casos, a redução de mortalidade foi de quase 71%, comparados aos casos sem nenhuma intervenção. Diagnósticos ER-/HER2+ e ER+/HER2- tiveram uma redução de mortalidade que ficou no patamar de 60%, enquanto tumores triplo negativos, um dos mais agressivos, viram a taxa cair 40%.
No mais, os dados apontaram uma melhoria também na sobrevida após o diagnóstico de um quadro metastático/recidivado. Em quadros ER+/HER2-, por exemplo, esse número foi de 1,6 anos em 2000 para 3,5 anos em 2017. Já em ER+/HER2+, o número saltou de 2,3 anos em 2000, para pouco mais de 4,0 anos em 2017.
Por fim, nos diagnósticos ER–/HER2+, a sobrevida após quadro estatístico variou de 1,5 anos em 2000, para 3,3 anos em 2017. Em tumores triplo negativos, a variação foi modesta, de 1,16 anos para 1,22.
Foram excluídos dos dados analisados tratamentos que só ficaram disponíveis de 2020 em diante, como o trastuzumab deruxtecan ou tucanib para tumores HER2+ ou ainda sacituzumab govitecan para quadros metastáticos de tumores triplo negativos.
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Tais números permitem concluir que os avanços nas alternativas de tratamento nas últimas duas décadas, tanto para tumores em estágios iniciais quanto para aqueles em quadros metastáticos, colaboraram (e ainda colaboram) com a queda na mortalidade. Com isso, pacientes e médicos têm mais informações para discutir sobre as opções e perspectivas de prognósticos diante das terapias disponíveis.
Todavia, indo além dos resultados do estudo, é preciso sempre reforçar que a desigualdade de acesso ao tratamento é uma barreira significativa em muitos contextos, principalmente em uma doença cujo diagnóstico e intervenção precoce melhora substancialmente os prognósticos.
Para se ter uma ideia, nos países desenvolvidos, o período de sobrevida após o diagnóstico supera os 5 anos em mais de 80% dos casos, enquanto na Índia tal número alcança os 66% e na África do Sul apenas 40%, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Não por menos, a própria OMS lançou a Iniciativa Global do Câncer de Mama, com o intuito de reduzir a mortalidade pela doença em 2,5% por ano até 2040. Se o objetivo for alcançado, isso pouparia 2,5 milhões de vidas. Para isso, o programa se baseia em 3 pilares: promoção da saúde, diagnóstico em tempo hábil e tratamento abrangente.
Portanto, fica claro que a redução da mortalidade por câncer de mama se beneficiou com os avanços nos medicamentos disponíveis, principalmente nos últimos anos. Entretanto, de certo modo há ainda muito o que ser feito para ampliar os benefícios que podem ser alcançados com as opções já disponíveis ou com outras trazidas pelo progresso constante da medicina.
Aproveite e saiba mais sobre o câncer de mama, vendo dados que explicam por que ele se tornou o tipo mais comum da doença.