Em todo o mundo, é consenso que o câncer de mama é uma das principais ameaças que afetam a saúde feminina e que é necessário agir preventivamente para o diagnóstico precoce da doença e a redução da mortalidade. Entretanto, quais são as melhores formas de realizar essa prevenção em diferentes contextos é uma pergunta que segue sendo investigada.
Recentemente, foi publicado no British Medical Journal o resultado de uma pesquisa que acompanhou mulheres indianas ao longo de 20 anos. Essa investigação traz novos elementos que ajudam governos e a comunidade médica a lidar com a prevenção do câncer de mama. O estudo focou nos efeitos do exame clínico de mama para a identificação precoce e a redução da mortalidade. Confira a seguir mais informações sobre o assunto.
O que é o exame clínico de mama
Exame clínico das mamas é o exame dessa região do corpo realizado por médico ou enfermeiro treinado para essa atividade. Além da checagem visual, o profissional realiza o apalpamento das mamas para identificar eventuais alterações. No Brasil, ele é realizado rotineiramente pelos médicos ginecologistas e mastologistas.
Por que o exame clínico de mama é importante
Apesar da mamografia ser a principal ferramenta de rastreamento estabelecida em países desenvolvidos, existe uma barreira de acesso a esse recurso em países de baixa e média renda devido a fatores como custo e complexidade. Assim, avaliar a eficácia de outras metodologias de detecção precoce é fundamental.
O exame clínico das mamas é um método alternativo de triagem (ou seja, de verificação dos indícios de câncer de mama) e já integrou outras duas importantes pesquisas internacionais: o Health Insurance Plan Study, realizada em Nova York, e o Canadian National Breast Screening Study. Nessas duas investigações há evidências sobre o potencial que o exame clínico das mamas tem de detectar efetivamente o câncer de mama e, por isso, formaram a base preliminar para a pesquisa indiana atual.
Verificação de eficácia do exame clínico de mama
Ao longo de 20 anos, um grupo de pesquisadores acompanhou cerca de 150 mil mulheres em Mumbai, na Índia, com idades entre 35 e 64 anos e sem histórico de câncer de mama. Elas foram separadas em dois grupos, que receberam acompanhamentos distintos, conforme destacado a seguir.
- Grupo de triagem:
- Passou por 4 rodadas de exame clínico da mama conduzido por trabalhadoras de saúde primárias treinadas;
- Recebeu informações de conscientização sobre câncer a cada 2 anos;
- Passou por 5 rodadas de vigilância ativa por meio de visitas domiciliares a cada 2 anos.
- Grupo controle:
- Recebeu uma vez informações de conscientização sobre o câncer;
- Passou por 8 rodadas de vigilância ativa a cada 2 anos.
Resultados
O estudo, que teve a coleta de dados encerrada em 2019, demonstrou que o rastreamento do câncer de mama com exame clínico resulta na detecção precoce da doença e em uma redução significativa de cerca de 30% na mortalidade por câncer de mama em mulheres com 50 anos ou mais.
Isso significa que, ao ser feito o diagnóstico de câncer de mama em uma mulher do grupo que recebeu exame clínico, a doença era descoberta em um estadiamento mais baixo (graus I e II em vez de III e IV). Além disso, esse diagnóstico precoce se refletiu em maior taxa de sobrevivência entre as pacientes mais velhas.
Em média, a realização do exame clínico a cada dois anos permitiu que a detecção do câncer de mama fosse realizada 16 meses mais cedo em mulheres de todas as idades.
O que já se sabia sobre esse assunto
- Em mulheres com 50 anos ou mais, mas sua eficácia em mulheres com menos de 50 anos é questionável.
- O autoexame da mama não tem se mostrado um método eficaz para a detecção precoce do câncer de mama.
- Não se sabia se o rastreamento por exame clínico das mamas poderia reduzir a mortalidade por câncer de mama.
O que o estudo indiano adiciona
- Em um estudo de 20 anos, o exame clínico das mamas realizado por profissionais de saúde treinados em Mumbai levou a um declínio do câncer de mama no diagnóstico e reduziu a mortalidade pela doença em quase 30% em mulheres com 50 anos ou mais, mas sem redução da mortalidade observada em mulheres com menos de 50.
- Uma redução de 5% em todas as causas de mortalidade foi observada no braço de triagem em comparação com o braço de controle, mas não foi estatisticamente significativa.
- O exame clínico das mamas deve ser considerado para rastreamento do câncer de mama em países de baixa e média renda.