Pacientes com câncer de mama luminal metastático contam cada vez mais com alternativas de tratamentos sistêmicos, que incluem abordagens conduzidas a partir da administração de terapias-alvo ou agentes endócrinos (ou seja, que atuam nos hormônios), mediante avaliação de marcadores genômicos.
Diante disso, a Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco), lançou em março de 2024 uma atualização breve para o uso de tais recursos nesse perfil de pacientes.
Vale lembrar que um tumor luminal é aquele que apresenta receptores hormonais positivos (e assim sofre influência da ação dos hormônios no seu desenvolvimento), mas é HER2 negativo (ou seja, não expressa essa proteína que está associada ao crescimento da neoplasia).
O uso do capivasertibe em câncer de mama luminal metastático
As novas atualizações coincidem com o devido registro do capivasertibe. Na prática, esse medicamento é um inibidor de AKT, uma proteína com papel relevante na função celular.
Em resumo, ela dispara uma cascata de processos envolvidos na multiplicação celular em vias associadas à evolução do tumor na mama. Desse modo, a sua inibição poderia conter a progressão da malignidade.
A evidência mais recente disso é o ensaio clínico CAPItello-291, que avaliou o capivasertibe em combinação com fulvestranto em pacientes que haviam registrado progressão metastática da doença após terapia com inibidores de aromatase. Por se tratar de um estudo de fase III, a última no desenvolvimento de um novo fármaco, esses dados subsidiaram o seu registro.
Com esse fim, foram reunidos pouco mais de 700 pacientes receptores hormonais positivos e HER2 negativo. Em seguida, esse grupo foi dividido entre as voluntárias que receberam apenas o fulvestranto e aquelas que receberam a combinação de fulvestranto + capivasertibe.
De forma geral, aquelas que foram tratadas com a combinação dos fármacos registraram menores índices de progressão do tumor ou morte por conta da evolução da doença.
Além disso, os benefícios observados parecem ter sido mais robustos em pacientes com determinadas alterações genéticas. Entre elas estão aquelas registradas nos genes PIK3CA, AKT1, PTEN. Em maior ou menor grau, tais modificações são comuns em pacientes com câncer de mama luminal avançado.
Resultados similares já haviam sido notados em estudos de fases anteriores, em que as vantagens do capivasertibe pareceram restritas a tais grupos.
O que a nova diretriz muda na prática
A Asco recomenda que a abordagem na primeira linha de tratamento desses casos privilegie o uso de inibidor de aromatase ou um inibidor de ciclinas. Isso inclui quem recebeu anteriormente tamoxifeno sozinho ou quem não passou por terapia recente com inibidor de aromatase.
Já as etapas seguintes de tratamento devem se orientar pelos resultados dos marcadores genômicos do tumor. A partir disso, a atualização das diretrizes recomenda que uma segunda linha de abordagem na progressão da doença deve considerar que:
- Pacientes sem nenhuma alteração identificada podem receber fulvestranto sozinho ou em combinação com everolimus. Quimioterapia em caso de recorrência após o uso de inibidor de aromatase ou em caso de exposição recente também é uma opção.
- Pacientes com alterações em PIK3CA, AKT1 ou inativação do PTEN podem receber a combinação de fulvestranto + capivasertibe independente da exposição prévia ao inibidor de aromatase.
- O fulvestranto isolado ainda pode ser uma opção se não houver tratamento anterior com inibidor de aromatase.
Já na terceira linha, novas combinações do fulvestranto + capivasertibe e ou fármacos como o Elacestrant e o alpelisib podem ser indicadas, sempre conforme as alterações identificadas. Além disso, pode haver a necessidade de introduzir outras terapias sistêmicas, como a quimioterapia.
Por outro lado, toda estratégia para superar um câncer de mama luminal deve sempre priorizar a individualização do tratamento, conforme a presença de biomarcadores, possível toxicidade e questões financeiras, que podem dificultar o acesso a determinados recursos.
Aproveite e entenda melhor como novos medicamentos vêm ajudando a reduzir a mortalidade pelo câncer de mama.