Já se sabe que a prática regular de atividades físicas pode ser uma ferramenta valiosa para reduzir a mortalidade por conta de tumores mamários malignos. No entanto, a maneira como esse hábito saudável influencia no risco de recorrência do câncer de mama não é tão clara, ou pelo menos não era até pouco tempo.
Diante disso, um grupo de pesquisadores franceses buscou registrar de que forma a quantidade de exercícios influencia na chance de que a doença volte. Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Oncology, em junho de 2024.
Os possíveis benefícios dos exercícios após o diagnóstico do câncer de mama
Várias evidências corroboram a conclusão de que o nível de atividade física mantido por uma paciente antes e depois do diagnóstico de um câncer de mama influencia na chance de que ela venha a óbito por conta da evolução da doença ou por outras complicações de saúde.
Em outras palavras, isso significa que pessoas ativas têm menos chance de morrer por causa do tumor e por outras enfermidades.
No entanto, nem sempre é possível estender essas conclusões para outro desfecho comum, como é o caso das recorrências. Tal aspecto pode ser igualmente importante, uma vez que se estima que cerca de 90% dos óbitos devido a um câncer de mama ocorrem em quadros em que há uma metástase.
Assim, entender como e quando os exercícios oferecem benefícios e previnem que a doença volte pode ajudar médicos e pacientes a determinar a melhor abordagem frente ao diagnóstico e tratamento necessário.
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As atividades físicas na redução do risco de recorrência do câncer de mama
Para calcular a relação dose-resposta (ou seja, se mais atividades oferecem mais benefícios e até que ponto isso se mantinha) dos exercícios físicos e do chamado intervalo livre de recorrência à distância do câncer de mama, foram reunidos pouco mais de 10 mil pacientes com diagnóstico primário de câncer de mama.
- Elas foram recrutadas entre 2012 e 2018, em vários centros de tratamentos na França.
- Os quadros variavam entre estágios I e III da doença e a idade média calculada era de mais ou menos 56 anos.
- Ao todo, o grupo foi acompanhado por uma média de 5,4 anos. No fim do prazo do estudo, 502 episódios de recorrência foram identificados.
A regularidade da prática esportiva foi calculada considerando questionários sobre o tema que equalizaram o gasto metabólico e as horas de atividade acumuladas por semana.
Com esses dados em mãos, os pesquisadores puderam observar que havia uma relação inversa entre a quantidade de exercício e o risco da recorrência. Logo, dentro de certos limites, quanto maior a movimentação do corpo, menor a chance de que a doença voltasse.
Os benefícios foram notados considerando patamares que englobavam pacientes que acumulavam entre 90 minutos e 5 horas semanais de atividades moderadas. Contudo, acima desse patamar não foi constatado nenhum benefício adicional.
Na média, praticar essa quantia mínima de exercícios destacados contribui com uma redução de até 18% no risco de recidiva comparado a nenhum nível de atividade física.
Todavia, os maiores ganhos foram notados em pacientes com tumores receptores hormonais negativos/ HER2+ . Considerando tal recorte, o número de recidivas foi de até 63% menor.
Adicionalmente, a melhora nos desfechos analisados em mulheres ainda na pré-menopausa foi bem mais relevante. Nesses casos, a redução no risco foi de até 36% quando feita a comparação com grupos equivalentes que não praticam nenhum exercício.
O que isso significa na prática para médicos e pacientes
Em linhas gerais, pode-se dizer que uma boa dose de exercícios tem potencial para ser considerada aliada contra a recidiva de tumores. Além disso, não custa lembrar que, diferente de outras intervenções, atividades físicas geralmente são recursos bem acessíveis, com poucas contraindicações e baixo risco de efeitos colaterais.
Além disso, tal hábito ajuda a amenizar outros sintomas (inclusive aqueles desencadeados por abordagens como a quimioterapia ou a hormonioterapia) e amplia a qualidade de vida como um todo.
Diante disso, pacientes devem ser esclarecidos sobre como os exercícios contribuem com o sucesso do tratamento e redução da probabilidade de recorrência do câncer de mama.
A partir disso, é possível considerar de que forma é possível encaixar tal iniciativa na rotina, dentro de eventuais limitações e preferências individuais.
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