A metástase axilar contralateral é uma forma rara de disseminação do câncer de mama pelo corpo além do sítio original da doença. Em média, ela acomete menos de 1% de todas as pacientes diagnosticadas com a neoplasia mamária.
Nesse cenário, um estudo realizado por pesquisadores sul-coreanos, publicado no primeiro semestre de 2024 no periódico Annals of Surgical Oncology, analisou dados de pacientes com este tipo específico de metástase para entender melhor seu comportamento e as perspectivas de sobrevida.
O objetivo era determinar como melhorar as abordagens dentro dos recursos disponíveis e comparar os desfechos normalmente esperados com aqueles alcançados em outras formas de propagação do tumor.
As características da metástase axilar contralateral
Uma metástase, vale lembrar, é a evolução de um quadro de câncer em que as células cancerígenas se proliferam além do local do diagnóstico original, mesmo após o tratamento.
A metástase axilar contralateral, por sua vez, é a manifestação do câncer que atinge os linfonodos da axila no lado oposto à mama inicialmente diagnosticada, também depois da realização do tratamento contra a doença.
As diretrizes atuais de tratamento concordam, quase sempre, em enquadrar essa manifestação dentro do escopo de uma doença em estágio IV, com perspectivas desfavoráveis de prognóstico e limitadas alternativas de tratamento.
No entanto, algumas evidências sugerem o contrário. Esses casos teriam melhores desfechos que as outras metástases distantes (ou seja, em outras partes do corpo), o que não justificaria tal classificação.
Além disso, muitas pacientes com metástase axilar contralateral são tratadas com objetivos curativos e não paliativos. Isso representaria uma contradição, uma vez que abordagens paliativas costumam ser a opção mais comum em quadros metastáticos.
É a partir dessas observações que surge o questionamento na comunidade médica: esses casos de câncer são equivalentes a outras formas de metástase? Ou podem ter uma classificação diferente, com perspectivas um pouco mais otimistas?
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Como o novo estudo abordou essas questões
Um grupo de pesquisadores coreanos buscou identificar mulheres que haviam sido diagnosticadas com metástase axilar contralateral após o tratamento.
A tarefa foi desafiadora, o que se reflete no tamanho da amostra. Após análise dos pacientes atendidos entre 2001 e 2023 em um hospital da Coreia do Sul, foram encontrados apenas 40 casos que atendiam aos critérios necessários. Nesse grupo, constatou-se que:
- A idade média das pacientes era de 48 anos;
- Cerca de 58% haviam passado por mastectomia como parte da terapia;
- 70% realizaram esvaziamento axilar (remoção dos linfonodos da axila);
- 97% receberam radioterapia axilar;
- 95% passaram por alguma terapia sistêmica (quimioterapia ou endocrinoterapia).
O tempo médio entre o diagnóstico inicial e a identificação da metástase axilar contralateral isolada foi de 36 meses.
A ressecção cirúrgica da nova formação identificada tornou-se a primeira opção de intervenção, à frente do tratamento sistêmico e da radioterapia.
As principais conclusões obtidas com os dados coletados
O período médio de acompanhamento do estudo foi de cerca de seis anos. Nesse intervalo, a sobrevida global e o tempo livre de progressão atingiram o patamar médio de 40%.
Isso significa que, entre as mulheres acompanhadas, 4 em cada 10 não morreram ou não apresentaram progressão da doença durante o estudo.
Contudo, 20 mulheres foram posteriormente diagnosticadas com metástase à distância. Nesse grupo, a doença evoluiu para óbito em metade dos casos.
Ao final, embora estatisticamente limitado, o estudo mostrou que mulheres apenas com metástase axilar contralateral apresentaram melhores desfechos clínicos em comparação com as pacientes com metástase à distância.
Adicionalmente, observou-se que nos casos em que a metástase na axila oposta era acompanhada de recidiva no lado do diagnóstico inicial também houve melhor prognóstico de sobrevida.
As implicações práticas para pacientes com essa forma de metástase
O estudo apresenta algumas limitações. Além da amostra reduzida, devido à baixa incidência do fenômeno, muitas participantes foram tratadas inicialmente com alternativas menos eficientes que as disponíveis atualmente.
Consequentemente, é possível que pacientes diagnosticadas e tratadas hoje apresentem melhor evolução nessas circunstâncias.
Os autores reafirmam que ainda é difícil considerar a reclassificação desse tipo de tumor como um fenômeno locorregional (restrito a determinada área do corpo).
No entanto, mesmo com possíveis dificuldades práticas na aplicação clínica, os resultados obtidos nos casos de metástase axilar contralateral acompanhada de recorrência no lado originalmente diagnosticado podem sugerir boas perspectivas para a introdução de tratamentos curativos, não apenas paliativos.
Aproveite agora para entender melhor a relação dos linfonodos com os casos de câncer de mama, independentemente da presença ou não de uma eventual metástase.