Não é fácil receber a notícia do diagnóstico de câncer de mama avançado. Uma série de emoções podem vir à tona e dificultar a capacidade de lidar com a situação. Da mesma forma, ao longo do tratamento, a pessoa com câncer de mama pode passar por situações desafiadoras, que envolvem consequências físicas e emocionais.
Por isso, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica sugere, desde 2017, que todos os pacientes com diagnóstico de câncer em estágio avançado se consultem com uma equipe de cuidados paliativos nos dois primeiros meses após a confirmação.
Cuidados paliativos no câncer de mama são estratégias que ajudam a gerenciar a dor e outros desconfortos causados pelo câncer, bem como controlar o estresse que o acompanha. Esses cuidados podem ser oferecidos por equipe especializada, mas também podem ser conduzidos pelo oncologista.
Uma equipe de pesquisadores do MD Anderson Cancer Center publicou, em 2021, na revista científica JCO Oncology Practice novas diretrizes sobre cuidados paliativos individualizados com pessoas que receberam o diagnóstico de câncer de mama metastático.
Se você recebeu o diagnóstico de câncer de mama com metástase, conhecer essas orientações práticas é importante. Elas podem ajudar você e o seu médico a fazerem escolhas melhores ao longo do tratamento, favorecendo o bem-estar e buscando opções que se encaixem melhor no seu caso clínico e nas suas preferências. Confira a seguir.
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Quando um câncer de mama é considerado avançado?Câncer de mama com metástase
Existem formas diferentes pelas quais um câncer pode se manifestar com metástase. De forma geral, sempre há fases agudas – quando há mudanças sintomáticas rápidas e progressivas – e fases estáveis – em que a carga de sintomas é relativamente baixa.
Um estudo científico mostrou que as manifestações mais sentidas pelos pacientes em cuidados paliativos incluem dor, fadiga, dificuldade de respirar, náusea, depressão, ansiedade e insônia. Portanto, são principalmente essas queixas que se busca resolver ou amenizar.
No tratamento paliativo, o médico verifica tanto o estágio da doença quanto a fase dos sintomas, avaliando estado físico, necessidades psicossociais e condição cognitiva. Na fase aguda, o monitoramento do estado do paciente e o controle dos sintomas são a prioridade. Já na fase estável, o foco pode mudar para a manutenção ou melhoria da força física e condição emocional.
Progressão da doença
O artigo que traz as novas diretrizes para cuidados paliativos divide o câncer de mama metastático conforme a progressão da doença, mostrando que há quatro formas que podem afetar a qualidade de vida de modos distintos e, portanto, demandar intervenções diferentes.
Segundo a pesquisa, a progressão pode ser:
- Latente: o câncer progride muito lentamente e as pessoas costumam ficar estáveis por 10 ou mais anos.
- Gradual: o câncer progride lentamente no início, mas a progressão e os sintomas aumentam com o tempo.
- Rápido: o câncer progride rapidamente e os sintomas são graves.
- Muito rápido: as pessoas apresentam problemas de saúde geral quando são diagnosticadas com câncer e a doença progride rapidamente.
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Tratamento da dor
O médico avalia a dor em todas as consultas. Para cuidar desse sintoma, é importante educação do paciente e da familia a respeito do tema, prescrição de medicamentos de controle e monitoramento dos níveis de dor. Em fases agudas, podem-se considerar bloqueio de nervo ou radioterapia paliativa.
Gerenciamento de fadiga
Além da avaliação formal do médico sobre os níveis de fadiga e eventuais fatores correlacionados (ex.: depressão, anemia, insônia, nutrição), o paciente deve aprender a realizar um automonitoramento, sendo capaz de identificar os momentos de maior e menor energia e tomando medidas conscientes para melhorar esse sintoma (ex.: exercícios, ioga, acupuntura, massagem e meditação). Na fase aguda, pode ser avaliado o uso de medicamento e deve-se conservar energia (ex.: delegar atividades, usar andador ou cadeira de rodas, cochilar).
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Exercício físico ajuda a diminuir a fadiga e a melhorar as funções cognitivas em pacientes com câncer de mamaControle de falta de ar
O primeiro passo é excluir outras causas para a falta de ar, como pneumonia, coágulos sanguíneos nos pulmões e obstruções das vias aéreas. Além disso, o paciente deve aprender técnicas de respiração ideal, fazer pausas frequentes para descanso e reduzir atividades. Na fase aguda, é possível utilizar medicamentos, oxigênio suplementar e ventilação não invasiva.
Aflição e ansiedade
O apoio psicológico é fundamental para ajudar a lidar com as emoções do tratamento. De forma geral são válidos grupos de aconselhamento, psicoterapia e apoio espiritual. Nas fases agudas, é necessário recorrer a ajuda profissional.
Exercício
Médico e paciente devem pesar os benefícios e riscos da prática de exercícios para chegar a um programa seguro e viável para ser adicionado ao dia a dia. Fisioterapia e terapia ocupacional também podem ser estratégias válidas.
Nutrição
Uma dieta rica em vegetais, frutas, grãos integrais, leguminosas, proteínas e água é a recomendação geral para todos os pacientes, que também devem evitar alimentos muito gordurosos, malcozidos, alcoólicos ou com açúcar adicionado. Nas fases agudas, entretanto, se houver dificuldade de alimentação, o importante é se sentir livre para comer o que tiver gosto bom e for mais bem aceito pelo organismo em cada momento.
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Alimentação durante o tratamento do câncer de mamaPlanejamento antecipado de cuidados
Um ponto importante nos cuidados paliativos no câncer de mama é o planejamento antecipado. Tirar as dúvidas sobre a doença, as opções de tratamento, os resultados esperados e o prognóstico são fundamentais para que o paciente seja ativo e tome decisões condizentes com suas preferências pessoais.
Além de ser esclarecedora, essa conversa cria a oportunidade para que a pessoa com câncer considere as opções que tem diante de si e decida como irá vivê-las. Em um momento agudo, que envolvam por exemplo medidas de suporte à vida, as decisões são confirmadas com o paciente, a família e cuidadores.