Dados de longo prazo do MammaPrint (teste genômico com 70 genes) foram destaque no ASCO 2020 (American Society of Clinical Oncology). Com apresentação da oncologista Fátima Cardoso, diretora da Unidade de Câncer de Mama do Champalimaud Cancer Center, em Lisboa, o estudo MINDACT confirmou o valor do perfil genômico para o de-escalonamento do tratamento adjuvante em pacientes com câncer de mama em estágio inicial.
Devido à pandemia atual, causada pelo novo coronavírus (Covid-19), a edição deste ano da ASCO Annual Meeting, o maior evento de oncologia do mundo, aconteceu em formato totalmente digital.
O que é o MINDACT?
O MINDACT é um estudo que fornece evidências de grande escala, prospectivas e randomizadas de um ensaio clínico relacionado com o uso do teste MammaPrint na prática clínica.
Em 2016, foi publicada a análise primária do estudo MINDACT no New England Journal of Medicine. Essa análise havia confirmado o valor do perfil genômico para pacientes com câncer de mama em estágio inicial, que poderiam com segurança abandonar a quimioterapia sem comprometer o resultado. Nessa análise primária, o estudo foi consagrado quando reclassificou e poupou cerca de 46% das pacientes da quimioterapia.
Agora, essa atualização demonstra que mesmo tendo aumentado o follow up para 8,7 anos, o que geralmente tem um significado mais enfático para pacientes luminais que tendem a recorrer da doença mais tardiamente, a previsibilidade se manteve estável, com um delta que foi de 1,5% para 2,6%. Ou seja, uma variabilidade ainda pequena, comprovando a confiabilidade do resultado e do estudo a longo prazo.
Métodos do estudo
Ao todo, foram analisadas 6693 pacientes, recrutadas entre 2007 e 2011, no estudo prospectivo randomizado de fase III do MINDACT. As pacientes eram de 111 centros em 10 países da Europa, e tinham câncer de mama inicial e submetidas a tratamento cirúrgico da mama. O teste foi desenhado para investigar a utilidade clínica do MammaPrint e para selecionar pacientes que não se beneficiariam eventualmente da quimioterapia.
As pacientes foram categorizadas com alto e baixo risco para recorrência, analisando o tumor através do MammaPrint e outra ferramenta, que era o Adjuvant Online. Assim, as pacientes com baixo risco clínico e genômico foram poupadas da quimioterapia. Já as com alto risco clínico e genômico eram tratadas com quimioterapia. Enquanto as com baixo risco clínico e alto risco genômico, ou vice-versa, eram randomizadas para receber quimio ou não.
Resultados da pesquisa
O principal endpoint foi a taxa de sobrevida livre de metástase à distância, que chamamos de DMFS, em 5 anos, em pacientes com alto risco clínico e baixo risco genômico, randomizados para não receberem quimioterapia adjuvante. Os endpoints secundários incluíram taxa de DMFS e sobrevida global em 5 anos na análise por intenção de tratar no grupo com alto risco clínico e baixo risco genômico, que foi randomizado para receber ou não quimioterapia adjuvante.
Os resultados já reportados em 2016 mostravam que em 5 anos, a taxa de DMFS foi de 94,7% em pacientes com alto risco clínico e baixo risco genômico que não receberam quimioterapia adjuvante. Já na análise apresentada na edição da ASCO 2020, após seguimento médio de 8,7 anos, a taxa de DMFS foi 95,1%.
Estratificação das pacientes por idade
Desta forma, esse estudo enfatiza o importante papel de de-escalonamento do tratamento exercido pela plataforma MINDACT. Porém, quando o benefício da quimioterapia nesse grupo é demonstrado conforme a idade, houve diferenças. Ficou evidente que a omissão da quimioterapia para pacientes com alto risco clínico e baixo risco genômico, na pós-menopausa, continuou a ser segura. Pois nesse período o ganho no DMFS foi de apenas 0,2%.
Já no grupo de pacientes abaixo dos 50 anos, o efeito da quimioterapia ou eventualmente da ablação ovariana induzida foi relevante. O DMFS foi de 5%. Ou seja, para pacientes na pré-menopausa com esse perfil, se torna relevante abrir mão da quimioterapia ou discutir a ablação ovariana.
A Dra. Fátima Cardoso enfatizou que seu estudo, o MINDACT, representa muito melhor o grupo de pacientes considerado com alto risco clínico do que o TAILORx.
“A presente análise prova claramente que a quimioterapia pode ser evitada com segurança em mulheres na pós-menopausa, classificadas como de alto risco de recaída por fatores clínico-patológicos tradicionais, mas com um teste MammaPrint de baixo risco, confirmando a utilidade clínica desse teste genômico”, afirmou a médica.