A necessidade do uso da radiação para tratar o câncer em diferentes estágios de evolução da doença é algo relativamente comum. Ainda assim, a aplicação desse recurso parece despertar preocupações sobre os efeitos da radioterapia entre os pacientes, gerando angústias das mais diversas.
Foi para dimensionar melhor o motivo e o tamanho de tais aflições que um estudo buscou ouvir e coletar essas percepções junto a um grupo de pessoas, reforçando como o contato com o médico pode ajudar a desmistificar pontos essenciais acerca da terapia. Os resultados foram publicados em janeiro de 2025 no periódico Advances in Radiation Oncology.
O papel da radioterapia no tratamento de um câncer
Para recapitular, essa é uma modalidade de terapia que utiliza radiação ionizante (em resumo, que possui energia suficiente para alterar átomos e moléculas) para destruir ou retardar o crescimento de células cancerígenas.
De modo geral, e de forma bastante resumida, a radioterapia pode ser empregada com a finalidade de:
- Funcionar como tratamento adjuvante, após uma cirurgia de remoção do tumor para destruir células remanescentes.
- Ser uma terapia neoadjuvante, para reduzir o tamanho do tumor antes da intervenção cirúrgica.
- Complementar o tratamento de casos avançados da doença, incluindo aquelas já em estágio metastático.
Pacientes com câncer de mama podem ainda se beneficiar tanto de sessões de radioterapia externa, na qual a área afetada pelo câncer é irradiada sob a pele, ou intraoperatória, em que a radiação é aplicada em dose única durante a cirurgia.
A definição pela necessidade dessa intervenção depende de uma série de fatores, que são avaliados pelo profissional responsável pelo acompanhamento. A decisão leva em conta a idade, o tamanho do tumor e a sua classificação e a presença de linfonodos atingidos pela progressão da doença, entre outros elementos.
Seja como for, o organismo responde à radioterapia de maneiras distintas. Junto das células cancerígenas, tecidos saudáveis próximos à área tratada também podem ser afetados.
Com isso, talvez se note efeitos colaterais como fadiga e reações na pele do local irradiado. Esses desconfortos podem impactar a qualidade de vida, mas tendem a ser passageiros.
Apesar disso, prejuízos ao bem-estar relacionados a qualquer tratamento oncológico frequentemente despertam preocupações entre os pacientes. E elas começam antes mesmo das sessões de aplicação de radiação.
As percepções sobre os efeitos da radioterapia entre os pacientes
Inicialmente, é preciso sempre lembrar que a partir do momento que recebem a notícia sobre a introdução de um novo tratamento esses indivíduos vão entrar em contato com diversas fontes de informações (seja por meio de familiares, de amigos ou mesmo pela internet).
Assim, a depender da qualidade dessas mensagens e conteúdos, é possível que se desenvolva certa angústia sobre o que pode acontecer no transcorrer do tratamento.
Partindo desse princípio, um grupo de pesquisadores norte-americanos buscou dimensionar melhor quais seriam essas inquietações. Para isso, foram reunidos 214 pacientes. Eles foram diagnosticados com diferentes tipos de câncer e 18% da amostra estava tratando um tumor na mama.
Todos eles, que não tinham histórico anterior de radioterapia, foram convidados a responder um questionário com 30 perguntas. Elas giravam em torno do que eles sabiam e esperavam da terapia utilizando radiação. Assim sendo, a partir das respostas coletadas foi possível constatar que:
- Efeitos da radioterapia relacionados à parte física estavam no topo da lista de preocupações.
- 67% dos pacientes temiam sentir dor por conta da radiação, 62% se preocupavam com a perda de memória, 60% com náuseas e vômitos e 58% com alterações na pele.
- 62% daqueles que completaram o questionário também demonstravam aflição em relação ao impacto da radioterapia na capacidade de desenvolver atividades diárias.
- 37% demonstraram receio em não poder continuar trabalhando.
- Os custos financeiros foram apontados como razão de inquietude por 36% dos respondentes.
Adicionalmente, havia muitas noções equivocadas sobre o tratamento em si. Quase metade dos voluntários demonstrou ter preocupação em emitir radiação para pessoas próximas ou eliminar material radioativo pela urina ou pelas fezes (o que não acontece).
Leia também: Mulheres com seios grandes se beneficiam de uma redução dos efeitos colaterais com a radioterapia na posição prona
O que esses resultados podem indicar para médicos e pacientes
Posteriormente, no detalhamento dos dados, os autores mostram também que cada grupo pode responder de modo diferente e demonstrar impressões variadas sobre o tema. Algumas dessas são bem previsíveis (como custos financeiros entre pessoas com renda menor).
De todo modo, não é possível determinar com certeza de onde essas preconcepções surgem. Contudo, é preciso ter ciência de que elas são capazes de afetar significativamente o bem-estar, exigindo orientações personalizadas para amenizar o desconforto psicológico proveniente de tais compreensões enganosas.
A comunicação efetiva entre equipe médica e pacientes sobre o que está por vir pode diminuir a ansiedade e melhorar a adesão ao tratamento. Quando adequadamente informados sobre o que esperar durante e após as sessões, os pacientes tendem a atravessar o processo com mais tranquilidade e menos temores infundados.
É importante ressaltar que os efeitos da radioterapia variam conforme o tipo de câncer, a região tratada e as características individuais de cada pessoa. Portanto, conversas detalhadas e personalizadas com o oncologista são fundamentais para esclarecer dúvidas específicas e ajustar expectativas.
Para ler mais sobre o assunto, confira este conteúdo que aborda justamente um estudo que revela que radioterapia para câncer de mama não é tão ruim quanto mulheres imaginam.