Embora seja importante na manutenção de uma boa qualidade de vida, a saúde sexual de pacientes com câncer de mama muitas vezes é negligenciada. Tal lacuna pode ser ainda maior quando a doença progride para um estágio metastático.
Diante disso, um estudo apresentado na reunião da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (a ESMO, na sigla em inglês) trouxe boas notícias. Uma rotina estruturada de exercícios pode ajudar essas mulheres a apresentarem um maior desejo sexual e a obter mais prazer com as relações.
O impacto do câncer de mama na saúde sexual das pacientes
Mulheres com câncer de mama podem apresentar barreiras à atividade sexual, tanto por conta da evolução da doença em si quanto por efeitos colaterais do tratamento.
É comum, por exemplo, que sessões de quimioterapia provoquem a perda dos cabelos e a radioterapia cause fadiga acentuada. Além disso, as abordagens de terapia hormonal trazem reflexos sobre os hormônios diretamente envolvidos no desejo e na satisfação sexual feminina.
Adicionalmente, há a questão psicológica em torno da condição, sobretudo quando ela avança na forma de uma metástase. A incerteza em torno do prognóstico e a preocupação com o sucesso do tratamento têm um peso importante na maneira como a mulher se sente.
No mais, o câncer de mama atinge uma parte da anatomia feminina fortemente associada à autoestima e à expressão da sexualidade das mulheres.
Com tudo isso, é natural que essas pacientes experimentem redução na libido, dificuldade para ter relações sexuais envolvendo penetração (muito por conta da secura vaginal decorrente de efeitos colaterais do tratamento) ou para atingir o orgasmo.
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Entendendo o papel dos exercícios na reversão dos prejuízos à saúde sexual
Por mais que os impactos descritos acima sejam conhecidos, faltam evidências de abordagens efetivas para esclarecê-los. Foi pensando nisso que o estudo randomizado PREFERABLE-EFFECT foi realizado.
Ele tentou entender qual é o impacto de rotinas estruturadas de exercício físico em mulheres com câncer de mama metastático, levando em conta a saúde sexual e outros sintomas específicos relacionados à doença. Para isso, foi conduzido com base nos seguintes parâmetros:
- 335 mulheres de países da Europa e da Austrália, com idade média de 55 anos, foram recrutadas para a investigação;
- todas tinham sido diagnosticadas com câncer de mama metastático. No momento do estudo, três em cada quatro delas já tinham recebido um tratamento de primeira ou segunda linha, enquanto 68% apresentavam metástase óssea;
- as participantes foram divididas em dois grupos aleatórios: o primeiro seguiu o acompanhamento normal, com recomendações genéricas para movimentar o corpo, e o segundo um programa de exercícios combinando atividades aeróbicas, de força e de equilíbrio duas vezes por semana;
- foram realizadas avaliações iniciais e a cada três meses, totalizando nove meses de estudo.
No começo, foi possível constatar que 60% das participantes estavam sexualmente inativas. Entre as que disseram estar ativas, 46% não aproveitavam as relações sexuais.
Além disso, um quarto das voluntárias relatou secura vaginal ou dor na penetração e um número similar tinha percepções negativas sobre sua autoimagem.
O efeito dos exercícios estruturados na saúde sexual dessas pacientes
Seja como for, os autores observaram que indicadores relativos à saúde sexual foram melhorando com o passar do tempo entre quem recebeu a orientação da rotina estruturada de exercícios.
Em resumo, o hábito regular melhorou significativamente a vida sexual das pacientes na avaliação feita depois de seis meses e persistiu também no marco de nove meses. Adicionalmente, houve um alívio nos sintomas associados à dor e à secura vaginal, característicos dos tratamentos endócrinos/hormonais.
Os relatos a respeito da satisfação sexual também apresentaram melhora. Todavia, a amostra era pequena e a diferença obtida não alcançou um grau estatisticamente significante.
Ainda que positivos, os autores apontam que são necessários novos estudos para determinar com exatidão qual a maneira ideal de obter os benefícios nesses aspectos por meio dos exercícios físicos.
Apesar disso, os dados obtidos reforçam como movimentar o corpo é uma recomendação para melhorar a saúde sexual de pacientes com câncer de mama, algo que nunca deve ser excluído da preocupação dos profissionais de mastologia e oncologia.
Aproveite e entenda também como os exercícios físicos depois do diagnóstico aumentam a sobrevida das pacientes e reduz o risco de recorrência da doença.