Mesmo após encerrado o tratamento, pacientes que superam um câncer de mama podem continuar manifestando uma série de sintomas associados aos efeitos colaterais das terapias adotadas. Exemplo disso é a fadiga pós-radioterapia.
Assim como manifestações similares decorrentes da endocrinoterapia e da quimioterapia, a fadiga associada à radioterapia pode se manter por meses ou anos após o tratamento finalizado. Nesse sentido, um estudo publicado em julho de 2023 traçou fatores como massa corporal, insônia, depressão, dor, entre outros sinais que podem apontar para uma maior predisposição para o problema no longo prazo.
O papel da radioterapia no tratamento do câncer de mama
Conforme a avaliação profissional, pode ser identificada a necessidade de que uma mulher com câncer de mama seja submetida a determinados tratamentos. Assim, além da cirurgia, as sessões de radioterapia aparecem como uma opção bastante adotada.
Na prática, a radioterapia aplica doses de radiação ionizante sobre o tecido da mama. O objetivo é destruir as células cancerígenas, que têm como característica se multiplicar mais rapidamente do que as saudáveis. A radiação ionizante é composta por uma onda eletromagnética capaz de remover os elétrons dos átomos, desestabilizando a estrutura molecular dessas células.
Na maioria dos casos, a radioterapia é utilizada depois da cirurgia ou da quimioterapia. Por isso, ela costuma ser chamada de tratamento adjuvante, que tem como objetivo complementar a primeira intervenção.
Ou seja, se aplicada depois da cirurgia, a radioterapia pode ajudar a eliminar resquícios do tumor que ainda tenham ficado no organismo e reduzir a chance de recidivas. Eventualmente, esse tipo de tratamento pode ser usado em casos que o tumor se espalhou para outras partes do corpo.
A radioterapia externa é a forma mais comum de aplicação desta terapia nos quadros de câncer de mama. Nesse caso, a máquina “aponta” a radiação para uma determinada área da mama, conforme o tipo de cirurgia feita (mastectomia conservadora ou radical) e o comprometimento de linfonodos.
Além disso, a radioterapia pode ser utilizada durante a cirurgia. A chamada radioterapia intraoperatória é aplicada de forma única sobre as áreas afetadas pelo tumor durante o procedimento cirúrgico. Embora permita uma única aplicação de radiação, tal opção tem indicações bastante limitadas.
O risco de efeitos colaterais pós-radioterapia
Como acontece em outros tratamentos, a radioterapia também pode provocar efeitos colaterais. Muitos deles são locais e passageiros. Entre algumas das alterações que podem ser percebidas pela paciente estão problemas de pele na região da aplicação. Por isso, é comum que o médico ofereça orientações sobre como lidar com esses problemas. Além disso, é possível que haja inchaço na mama e na região do braço.
Com o passar das sessões, efeitos colaterais mais gerais também podem dar as caras. A fadiga é um exemplo disso. Em geral, ela começa a se manifestar algumas semanas após o início do tratamento e é explicada pela destruição das células saudáveis pela radiação. Além disso, ela pode piorar devido ao estresse por ter que lidar com a doença ou ainda pela necessidade de se deslocar para comparecer às sessões de aplicação da radiação.
Em todo caso, é preciso observar que esse é um tipo diferente de fadiga, que não vai embora com o descanso apropriado como seria esperado. Assim, ela pode ser bastante incapacitante e afetar a capacidade do desenvolvimento das atividades diárias. Além disso, ela pode se manter por meses ou anos, conforme já mencionado.
Os fatores que influenciam no desenvolvimento da fadiga pós-radioterapia
Com isso em mente, um grupo de pesquisadores de centros de pesquisa europeus queria entender como determinados fatores poderiam contribuir para o risco da fadiga pós-radioterapia no longo prazo.
Para isso, mais de 1400 pacientes responderam um questionário para mensurar a sensação de fadiga em diferentes dimensões (geral, física, mental ou relativa a disposição para completar tarefas e se manter ativa) e tiveram informações coletadas sobre características como índice de massa corporal, tipo de radioterapia e sinais de depressão, insônia ou dor. Esses procedimentos foram repetidos antes e depois da aplicação da radioterapia, assim como um ano e dois anos após o fim do tratamento.
Em linhas gerais, para a maioria das pacientes, a sensação de fadiga aumentava depois da radioterapia, mas ia diminuindo progressivamente um e dois anos após encerradas as aplicações de radiação.
No entanto, quando cruzadas as informações sobre a sensação de fadiga e dados de IMC peso, sintomas de depressão, insônia, dor e outros aspectos ponderados no estudo, concluiu-se que mulheres que relataram piores indicadores apresentaram maior sensação de fadiga mesmo dois anos após o fim do tratamento.
Assim, mulheres que relatavam queixa de fadiga basal (ou seja, antes do tratamento) apontavam várias dimensões do sintoma (geral, física, mental, etc.) mesmo passados 24 meses da última sessão, independentemente ou não de outros tratamentos (como a quimioterapia).
Ou seja, o estudo aponta que podem sim existir fatores de risco para uma fadiga persistente pós-radioterapia. Esse pode ser um primeiro passo para se pensar em intervenções capazes de identificar tais aspectos e promover medidas para mitigar seus efeitos.
Aproveite e veja como a radioterapia na posição prona pode ajudar a reduzir os efeitos colaterais em mulheres com mamas grandes.