Soluções baseadas em tecnologias de inteligência artificial, ou apenas IA, estão revolucionando diferentes segmentos do conhecimento humano. Na oncologia, claro, isso não poderia ser diferente. Nesse contexto, trabalhos discutindo os possíveis usos da IA no diagnóstico do câncer de mama também vêm recebendo destaque.
Exemplo disso é um estudo feito por pesquisadores suecos, que mostrou o potencial do uso de recursos de inteligência artificial para aumentar a eficácia da análise de mamografias, ajudando no diagnóstico e reduzindo a carga de trabalho para os profissionais envolvidos. Ainda que apresente limitações, a pesquisa aponta para possibilidades para o futuro.
A importância do rastreio para o diagnóstico precoce do câncer de mama
Se excluídos os casos de câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres brasileiras. Isso, claro, exige que uma série de medidas sejam adotadas para diminuir a mortalidade pela doença.
Nesse contexto, o diagnóstico precoce faz toda a diferença: se identificado em estágio inicial, um tumor na mama tem maiores chances de responder ao tratamento. Para isso, ações de rastreamento são importantes, já que elas permitem que casos ainda sem qualquer sintoma sejam identificados.
O rastreamento do câncer de mama consiste na aplicação de exames periódicos em mulheres de determinado recorte, englobando aquelas com maior risco de desenvolver a doença, seja pela idade, seja por outros fatores previamente avaliados. Em geral, a mamografia é o exame escolhido para esse fim. A partir disso, médicos avaliam as imagens e observam se há alguma alteração que mereça uma maior atenção.
Todavia, dependendo do cenário, essa avaliação pode demandar uma enorme carga de trabalho e levar a um número considerável de resultados equivocados, como falsos-positivos e falsos-negativos.
Como a inteligência artificial pode aumentar a eficácia da avaliação das mamografias
Foi levando isso em conta que pesquisadores da Suécia desenvolveram um estudo para avaliar o uso da IA no diagnóstico de câncer de mama. Foram convidadas mais de 80 mil mulheres, que realizam mamografias de rastreamento a cada um ou dois anos, em serviços de saúde do país. Elas tinham entre 40 e 74 anos e não havia critérios de exclusão que impediam a participação na pesquisa.
A partir disso, elas foram divididas em dois grupos. O primeiro teria as imagens dos exames avaliadas com o auxílio de um sistema de inteligência artificial. O segundo seguiria o caminho normal e teria o exame avaliado por dois mastologistas.
O recurso de IA utilizado gerava uma pontuação de risco após a avaliação da mamografia. Assim, mulheres que recebiam um escore abaixo de determinado número, tinham seus exames avaliados por apenas um médico. Já aquelas em que a IA indicava uma pontuação maior, eram avaliadas por dois mastologistas, como aconteceria sem a tecnologia. Nesse ínterim, os médicos poderiam chamar as pacientes para avaliações adicionais (incluindo repetição da mamografia ou outros exames).
No fim, o grupo de pacientes avaliado com auxílio da IA teve um volume de diagnósticos 20% maior. Em números absolutos, isso representou 41 casos a mais, sendo 19 de tumores invasivos e 22 de tumores in situ. Ademais, o número de diagnósticos no grupo com uso da IA foi de 6,1 a cada 1000 pacientes, enquanto entre as pacientes avaliadas apenas por médicos esse índice alcançou 5,0 casos a cada 1000.
No mais, embora o índice de pacientes submetidos a reavaliações adicionais em ambos os grupos tenha sido parecido, o auxílio da tecnologia fez com que os médicos realizassem 37 mil análises de mamografias a menos. Isso indica uma redução de 44% na carga de trabalho.
Quais ainda são as limitações do uso da IA no diagnóstico do câncer de mama?
O primeiro ponto que merece ressalva sobre os dados do estudo sueco é que ele foi apresentado por meio de um preprint. Portanto, ele não foi avaliado por outros pesquisadores sem qualquer relação com a pesquisa. Assim, pode haver inconsistências nos dados e nas conclusões apontadas.
Além disso, um uso mais amplo da IA no diagnóstico do câncer de mama apresenta outras restrições que ainda precisam ser superadas. Uma delas é a ausência de padronização das ferramentas disponíveis e a necessidade de capacitação dos profissionais. Além disso, é preciso sempre observar com cuidado os riscos de sobrediagnóstico (ou seja, de resultados que levam a procedimentos desnecessários).
Em suma, o uso da IA no diagnóstico do câncer de mama pode, claro, ser importante para aprimorar o trabalho dos médicos, tornando-se mais uma ferramenta capaz de otimizar o trabalho e garantir a eficácia necessária no cuidado com a saúde. Porém, algumas questões ainda precisam ser equacionadas.
Ainda falando das mamografias, saiba como esse exame ajuda a evitar mortes por câncer de mama.