De acordo com um pequeno estudo conduzido na Índia e publicado em fevereiro de 2022 no Journal of Clinical Oncology, o uso de mangas de compressão pode ajudar a prevenir o risco do desenvolvimento de linfedema em mulheres que passaram por cirurgia de dissecação e nódulos na axila como parte de um cirurgia de câncer de mama.
Ainda que inicial, o estudo pode indicar novas condutas para o acompanhamento de pacientes sob o risco de desenvolver linfedemas após passarem por cirurgias de dissecação de nódulos na axila durante a retirada de um câncer de mama.
Linfedema e câncer
Linfedemas são pequenos inchaços localizados nos braços, mãos, seios ou no tronco, principalmente como efeito colateral de intervenções para tratar o câncer de mama, como cirurgias, radioterapia ou ambas.
Isso acontece porque tais procedimentos podem atingir linfonodos e canais linfáticos, impedindo que o fluido linfático flua de forma adequada. Desse modo, com o tempo, esse líquido pode se acumular nessas regiões e formar os linfedemas.
Ainda que outras condições constituam fator de risco para o desenvolvimento de linfedemas (como radioterapia, múltiplas cirurgias nos seios ou estar acima do peso), a dissecção dos linfonodos axilares é a principal causa para o desenvolvimento do problema.
Em muitos casos, a dissecção dos linfonodos axilares é feita ao mesmo tempo em que a mastectomia (ou seja, a retirada da mama) ou da lumpectomia (a retirada apenas do nódulo), como parte do tratamento de câncer mamário em estágios iniciais.
Os linfonodos retirados da axila são analisados por um médico patologista. Se nesse material forem encontradas células cancerígenas, a chance de que o câncer reincida é maior. Nesses casos, é normal que sejam adotados outros tratamentos após a cirurgia, como quimio ou radioterapia.
Os achados do novo estudo
O objetivo do estudo foi identificar se usar mangas de compressão pode ajudar na redução da incidência de linfedemas entre mulheres que passam por cirurgias de dissecação axiliares. Atualmente, a utilização desse item não é recomendada pelos médicos justamente devido à falta de evidências a respeito dos seus benefícios, salvo após avaliação posterior caso a caso.
Para isso, foram incluídas no estudo 307 mulheres que passaram por cirurgias para tratar câncer de mama no período entre 2018 e 2020, num hospital em Mumbai, na Índia. As pacientes foram divididas em dois grupos: um que passou pela intervenção com as mangas de compressão e outro que serviu de controle.
Cada mulher no grupo que utilizaria as mangas de compressão recebeu duas unidades do item. Elas deveriam ser utilizadas até 3 meses depois da cirurgia, em adição aos demais cuidados pós-operatórios e demais tratamentos adjuvantes para a neoplasia.
A partir do início do acompanhamento, os braços das mulheres foram avaliados em 4 momentos: antes da cirurgia, quando os pontos foram retirados, entre 5 e 7 meses após a cirurgia e entre 11 e 13 meses depois.
Para mensurar o inchaço dos braços, foi utilizado a bioimpedância espectroscópica. Não houve alteração na qualidade de vida ou de qualquer relacionada ao câncer entre os dois grupos. Contudo, aquelas mulheres que utilizaram as mangas de compressão apresentaram menor inchaço nos braços, o que indica um risco menor da presença de linfedemas.
De acordo com o estudo, 42% das mulheres do grupo que usou as mangas de compressão apresentaram inchaços nos braços no primeiro ano após a cirurgia. Já entre o grupo de controle, sem a utilização do acessório, a incidência foi de 52% no mesmo período.
O que muda na prática?
O estudo indiano teve uma escala reduzida, mas pode indicar que a orientação para o uso de mangas de compressão em adição aos cuidados já adotados no pós-operatório de cirurgias de câncer de mama pode ter efeito benéfico na redução do inchaço nos braços relacionados ao linfedemas.
Entretanto, diante do número reduzido de pacientes recrutadas para a análise, estudos adicionais são necessários para confirmar esse benefício. Além disso, não é claro ainda se eventuais benefícios permanecem após 1 ano da cirurgia, que foi o período delimitado no estudo.
Desse modo, consulte o médico para o acompanhamento necessário antes e depois da cirurgia e para que ele avalie a necessidade ou não da utilização de mangas de compressão de acordo com cada caso.
Portanto, como há muito a ser investigado na relação entre mangas de compressão e linfedema, a obtenção do suporte profissional adequado e o aprendizado sobre os sinais desta condição continuam como as principais orientações.
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