As primeiras semanas da pandemia da COVID-19 fizeram com que 44% das sobreviventes do câncer de mama atrasassem o atendimento nos Estados Unidos. O dado é de uma pesquisa publicada pela revista Breast Cancer Research and Treatment. Atrasos na consulta médica de rotina ou de acompanhamento foram os mais comuns, seguidos de atrasos na cirurgia de reconstrução mamária e no diagnóstico por exames de imagem e laboratoriais.
“A motivação para o estudo veio de relatos generalizados de atrasos no tratamento do câncer ou de procedimentos cancelados no início da pandemia, e queríamos ter um melhor controle sobre o que estava acontecendo”, disse a autora do estudo, Elizabeth Papautsky, PhD, Professora Assistente de Ciências Biomédicas e de Informação em Saúde da Universidade de Illinois no Chicago College of Applied Health Sciences.
Coronavírus e câncer de mama
O novo coronavírus (COVID-19) é uma nova cepa que foi descoberta em 2019, em Wuhan, na China, e não havia sido identificada antes em seres humanos. Atualmente, ainda não existe vacina para esta forma de coronavírus.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, pacientes oncológicos estão no grupo de risco. Idosos e pessoas com condições médicas pré-existentes, como diabetes, doenças pulmonares, doenças cardíacas e câncer são consideradas mais vulneráveis e podem ter consequências mais graves se contraem o novo coronavírus.
Como a COVID-19 era um novo vírus muito contagioso, inicialmente foi recomendado na maioria dos países o adiamento de procedimentos eletivos.
Método do estudo
O grupo de pesquisadores criou um questionário on-line de 50 perguntas e pediu para adultos diagnosticados com câncer de mama preencherem. Entre 2 de abril e 27 de abril de 2020, os pesquisadores receberam 609 respostas. Destes, 608 eram mulheres.
O questionário procurou identificar quais tipos de atendimento foram adiados: quimioterapia, radioterapia, cirurgia de câncer, tratamento hormonal ou consultas de acompanhamento de rotina. Também havia questões demográficas sobre raça e idade, bem como o estágio do câncer. Ao todo, foi possível identificar que:
- 63% dos entrevistados estavam em tratamento de câncer;
- 47 anos era a idade média dos entrevistados;
- 78% se identificaram como brancos, 17% como negros e 3% como asiáticos.
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Os resultados mostraram que 44% dos entrevistados responderam “sim” à pergunta: “Algum aspecto do seu tratamento oncológico foi adiado ou interrompido devido à pandemia de COVID-19?”. As taxas de atraso de acordo com os procedimentos foram as seguintes:
- Consultas clínicas de rotina ou de acompanhamento – 79%;
- Reconstrução cirúrgica da mama – 66%;
- Diagnóstico por exame de imagem – 60%;
- Diagnóstico por exames laboratoriais – 50%;
- Radioterapia – 30%;
- Terapias de infusão – 32%;
- Remoção cirúrgica de tumor – 26%;
- Aconselhamento e testes genéticos – 11%;
- Terapias orais – 13%.
O estudo também constatou que os relatos de atrasos foram ligeiramente maiores entre as entrevistadas brancas e asiáticas em comparação com as entrevistadas negras. Além disso, pessoas mais jovens relataram mais atrasos do que pessoas mais velhas.
“Esperávamos a diferença racial usual que vemos nos cuidados de saúde, com pacientes negras sendo afetadas de forma desproporcional, mas nossos resultados mostraram que os pacientes foram universalmente afetados pela COVID-19 em termos de atrasos no tratamento do câncer de mama, provavelmente, porque nas primeiras semanas, hospitais e unidades de saúde estavam adiando visitas e procedimentos em geral, à medida que assumiam o fardo crescente de lidar com a COVID-19”, explica a co-autora Tamara Hamlish, pesquisadora do programa de sobrevivência ao câncer da Universidade de Illinois.
A pesquisadora completa que, no geral, foi visto que há uma lacuna séria na preparação para desastres quando se trata de fornecer cuidados essenciais e, muitas vezes, urgentes para pacientes com câncer de mama.