Um novo estudo analisou a relação entre terapia de reposição hormonal em mulheres na menopausa e o câncer de mama. Essa relação vem sido muito debatida nos últimos anos após alguns estudos afirmarem que existe um risco maior de desenvolver câncer de mama ao fazer terapia de reposição hormonal. Porém, um novo estudo publicado no JAMA, afirmou que o uso prévio de estrogênio equino conjugado (CEE, na sigla em inglês) diminuiu a incidência e mortalidade de câncer de mama.
Mas, a pesquisa também revela que o uso prévio de CEE com acetato de medroxiprogesterona (MPA, na sigla em inglês) foi associado a um aumento da incidência do câncer de mama. A seguir, explico melhor a terapia de reposição hormonal e os resultados deste estudo.
Entenda a terapia de reposição hormonal
A terapia de reposição hormonal é um tratamento que alivia sintomas comuns que acompanham a menopausa, como ondas de calor e ressecamento vaginal. Com o início da menopausa, o corpo da mulher passa a produzir menos hormônios femininos, como o estrogênio e a progesterona, e em alguns casos, os sintomas prejudicam muito a qualidade de vida da mulher. Por isso, algumas realizam a reposição hormonal.
A indicação do tipo de reposição hormonal pode mudar de acordo com os sintomas da paciente e seu estado e histórico de saúde. Os hormônios usados, a dosagem e o tempo de uso são determinados pelo médico após avaliação criteriosa e levando em conta suas necessidades individuais. Além disso, existem diferentes formas de reposição, podendo ser injetável, por comprimidos, adesivo e gel, e anel vaginal.
CEE e MPA são fórmulas de medicamentos usadas no tratamento dos sintomas da menopausa. O CEE pode ser usado isoladamente ou em conjunto com o MPA.
Com o objetivo de entender a relação da reposição de hormônios com a incidência e a mortalidade por câncer de mama, um grupo de pesquisadores realizou um acompanhamento de longo prazo de dois ensaios clínicos.
Como o estudo foi realizado?
Os pesquisadores analisaram os casos de 27.347 mulheres pós-menopausa sem câncer de mama prévio e mamografias negativas no início do estudo. Elas tinham entre 50 e 79 anos.
As mulheres foram matriculadas em 40 centros dos Estados Unidos de 1993 a 1998 e foram contatadas para acompanhamento a cada seis meses até 2005 e anualmente até 2017.
O primeiro ensaio incluiu 16.608 mulheres com útero. Ele terminou em 2020 após um período médio de intervenção de 5,6 anos. Essas mulheres foram divididas em dois grupos:
- 8.506 receberam 0,625 mg/dia de CEE + 2,5 mg/dia de MPA;
- 8.102 receberam placebo.
O segundo ensaio incluiu 10.739 mulheres que fizeram histerectomia (procedimento cirúrgico de remoção do útero). Terminou em 2004 após um período de 7,2 anos. As participantes foram divididas em dois grupos:
- 5.310 receberam 0,625 mg/dia de apenas CEE;
- 5.429 receberam placebo.
Primeiros resultados
Uma análise em 2015 descobriu que o CEE por si só estava associado a um menor risco de câncer de mama e o CEE + MPA estava associado a um risco aumentado.
Resultados atuais
De acordo com a análise atual, após uma mediana de 20,3 anos de acompanhamento e com os dados de mortalidade agora disponíveis para mais de 98% dos participantes, o CEE sozinho foi associado a menos casos de câncer de mama (238 casos) em comparação com o placebo (296 casos). Além disso, o estrogênio equino conjugado foi associado a mortalidade mais baixa (30 mortes) em comparação com o placebo (46 casos).
“O uso prévio de CEE sozinho é, até onde sabemos, a primeira intervenção farmacológica demonstrada a estar associada a uma redução estatisticamente significativa nas mortes por câncer de mama”, escreveu Rowan T. Chlebowski, MD, PhD, do Instituto Lundquist de Inovação Biomédica em Torrance, Califórnia, e seus co-autores.
Já o uso de CEE com MPA foi associado a mais casos de câncer de mama (584 casos) do que o placebo (447 casos). Mas em relação à mortalidade, não houve diferença estatisticamente significativa.
“A grande coisa a se pensar é o estrogênio sozinho reduzindo a mortalidade por câncer de mama em 40%”, disse o Dr. Chlebowski em uma entrevista, segundo o Medscape.
Decisão sobre reposição hormonal ainda é complexa
Ao mesmo tempo, o Dr. Chlebowski e seus coautores também reconheceram as limitações de estudo, como o uso de dosagens muito especificamente administradas e formuladas, tornando suas descobertas “não necessariamente generalizáveis para outras preparações”.
Em editorial anexo ao estudo, especialistas destacam a importância da tomada de decisão multifatorial, uma vez que o câncer de mama é só um dos fatores a serem ponderados. Existem outros. “As decisões de iniciar esses medicamentos permanecem complexas”, acrescentaram.
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