Não parece ser só uma impressão: dados publicados no periódico Cancer Discoveryem julho de 2025 indicam um crescimento de diferentes tipos de câncer em jovens nos Estados Unidos, considerando o recorte de pessoas dos 15 aos 49 anos, no período que vai de 2010 a 2019.
Os dados obtidos reforçam que o aumento de casos se concentra principalmente em episódios de tumores colorretais, na tireoide e nas mamas. Contudo, apesar da elevação, a mortalidade pela doença não acompanhou esse incremento, considerando o intervalo entre 2010 e 2022.
Por isso, vale a pena repassar melhor os achados da pesquisa e entender o que ela indica a respeito do diagnóstico e da prevenção nessa fase da vida.
Qual a dimensão do aumento dos casos de câncer em jovens?
Para determinar a elevação do diagnóstico de 33 tipos de câncer oncológico em idade precoce, os pesquisadores coletaram dados registrados entre 2010 e 2019. Eles foram obtidos no United States Cancer Statistics Database.
Além disso, foram analisados os óbitos do National Center for Health Statistics, entre os anos de 2010 e 2022. Por conta das flutuações artificiais registradas na época da pandemia de Covid-19, os anos de 2020 e 2021 foram excluídos.
A partir disso, a mudança absoluta no número de casos de câncer em jovens (considerando o intervalo dos 15 aos 49 anos, divididos em recortes menores: dos 15 aos 29, dos 30 aos 39 e dos 40 aos 49) foi estimada comparando os casos observados em 2019 e as taxas de 2010.
Dentro do período analisado, foram registrados mais de 2 milhões de casos de câncer em jovens adultos. Desse total, 62% acometeram as mulheres. Entre os casos mais comuns nesse grupo estavam tumores de mama, tireoide e de pele (melanomas).
Outro dado que chama a atenção foi que a comparação entre 2010 e 2019 apontou 4 mil casos de câncer de mama adicionais em mulheres. Isso fez do tumor mamário aquele que teve o maior aumento registrado.
Câncer colorretal, nos rins e no útero também tiveram alta considerável no público feminino. Com isso, ao lado dos diagnósticos na mama, esses corresponderam a 80% dos episódios adicionais registrados quando se colocava frente a frente os anos de 2010 e 2019.
O maior aumento de incidência se deu entre os 30 e os 49 anos. Ademais, ainda que 14 dos 33 tipos de câncer tenham apresentado aumento em pelo menos uma faixa etária, só quatro deles (câncer de testículos, útero, colorretal e de ossos e articulações) apresentaram um aumento nos óbitos, considerando homens e mulheres.
Que fatores podem estar por trás desses números?
Em certa medida, os achados do estudo destacado estão em linha com outros levantamentos já publicados anteriormente.
Um artigo de 2023 do BMJ Oncology, por exemplo, demonstrou que entre 1990 e 2019, a incidência global do câncer de início precoce cresceu 79,1% e as mortes aumentaram 27,7%.
O maior aumento se deu em cânceres de mama, traqueia, brônquios, pulmão, estômago e colorretal, sobretudo na faixa etária que vai dos 40 aos 49 anos.
No entanto, traçar o panorama que identifica o aumento do número de casos de câncer em jovens é só o primeiro passo. Novos estudos são necessários para determinar com mais clareza os mecanismos por trás desse aumento. Seja como for, entre as possibilidades a serem ponderadas estão:
- Aumento de diagnósticos incidentais e da aplicação adequada de protocolos de rastreamento de diferentes tipos de câncer (o que, em tese, explicaria um aumento de casos, mas não da mortalidade).
- Elevação da incidência de doenças crônicas como diabetes eobesidade, que contribuem para o risco de alguns quadros oncológicos.
- Maior adesão a um padrão de dieta ocidental (rica em gordura, sal e açúcar) e consumo crescente de alimentos ultraprocessados, de álcool e tabaco.
- Alterações nos padrões de reprodução (gestações tardias ou em menor número e redução no período de amamentação, por exemplo).
- Variações no microbioma intestinal.
- Exposição a elementos ambientais.
Ou seja, mais do que um único componente, é provável que vários fatores atuando de modo conjunto estejam por trás dos números em ascensão.
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Qual o impacto do diagnóstico do câncer nessa fase da vida?
Dados à parte, o câncer em jovens entre 15 e 49 anos traz consequências que frequentemente vão além do risco de mortalidade.
Apesar dos avanços no tratamento, essa faixa etária enfrenta desafios, afetando aspectos físicos, emocionais e sociais que se estendem mesmo após o término do tratamento.
Não raro, sobreviventes jovens lidam com sequelas importantes. Exemplo disso entre as mulheres são as mutilações e problemas de fertilidade causados por quimioterapia, radioterapia ou cirurgias.
No âmbito profissional, o tratamento pode interromper ou prejudicar a trajetória de carreira, gerando dificuldades para retomar ou manter o emprego, assim como limitações físicas e cognitivas que interferem na produtividade e nas relações sociais.
O impacto psicológico é outro aspecto crítico. Mesmo quem se recupera ainda pode ter sentimentos negativos, incluindo nisso a preocupação de que a doença retorne no futuro.
Dessa forma, o câncer em jovens é um desafio individual e coletivo que exige acompanhamento integral, visando identificar riscos para promover meios de prevenção e diagnóstico adequado, permitindo assim um melhor manejo dos casos identificados.
Por falar em fatores de risco do câncer em jovens, entenda por que alguns mitos sobre o tema ainda são bem comuns.





