Mulheres com mutação nos genes BRCA podem receber orientações específicas sobre o que pode ser feito para minimizar o risco de desenvolver um câncer de mama no futuro.
Entre algumas dessas recomendações estão a ampliação da vigilância em torno de casos ainda em estágios iniciais, inclusive com o uso de recursos como a ressonância magnética, e cirurgias profiláticas, como a remoção dos ovários.
Nesse contexto, dois estudos recentes acrescentaram evidências sobre como tais medidas podem contribuir na redução do risco de mortalidade pelo câncer de mama.
A presença de mutações nos genes BRCA
Esse é um tema frequente quando falamos em prevenção do câncer de mama, mas nunca é demais retomá-lo.
De forma geral, a presença de mutações nos genes BRCA (que aparecem na forma de duplas e são denominados 1 e 2) amplia a chance de que uma mulher tenha um tumor. Estima-se que até 70% das pacientes com genes BRCA alterados terão um câncer na vida, de acordo com o National Cancer Institute.
Essas alterações fazem com que esses segmentos do DNA tenham mais dificuldade em impedir a replicação desordenada das células, elevando a probabilidade de que um tumor se forme por conta de um erro genético.
As mutações nos genes BRCA são descobertas por testes genéticos, feitos conforme avaliação profissional. Nesse contexto, mulheres com histórico familiar da doença ou pertencentes a determinadas etnias podem ser orientadas a passar pela avaliação.
A partir disso, médicos e pacientes podem discutir a adoção de uma série de medidas profiláticas. Elas não vão eliminar por completo o risco de ter o câncer de mama, mas ajudam a mitigar tais probabilidades. Além disso, esses recursos podem ser relevantes para um diagnóstico precoce, ampliando as chances de que os tratamentos disponíveis sejam efetivos.
Desse modo, cirurgias redutoras de risco como a ooforectomia e a ampliação do rastreamento entre mulheres ainda sem qualquer sintoma da doença são algumas das iniciativas possíveis.
As evidências sobre o uso da ressonância magnética nos rastreamentos
É nesse cenário que um estudo de fevereiro de 2024 investigou como o uso da ressonância magnética poderia reduzir a mortalidade de mulheres com mutações nos genes BRCA 1 ou 2 . Para isso, foram coletados os dados de 2.488 pacientes espalhadas por 11 países.
Desse total, 71% (pouco menos de 1800) delas fizeram pelo menos uma ressonância magnética como triagem de um possível câncer de mama. Entre as demais, quase todas relataram ter feito apenas mamografias.
Nesse ínterim, as pacientes foram acompanhadas por até 24 anos (em uma média de 9,2 anos), com registros de casos de câncer de mama e morte. No fim, a incidência da doença foi mais ou menos a mesma em ambos os grupos.
Por outro lado, pacientes submetidas à ressonância magnética tiveram um risco menor de morrer por conta da neoplasia. Elas apresentaram ainda maior sobrevida se comparadas aos casos identificados em mulheres que seguiram apenas com a mamografia.
Ainda que seja visto com limitações, o estudo aponta como esse exame de imagem pode ser importante para mulheres com esse alto risco. Com isso, tais conclusões podem reforçar as orientações sobre o uso do recurso nessas condições.
A redução da mortalidade por conta da ooforectomia
A ooforectomia é a cirurgia conduzida com o objetivo de remover um ou ambos os ovários de uma mulher.
Em pacientes com mutações nos genes BRCA 1 e 2, o procedimento adotado costuma ser a salpingo-ooforectomia bilateral. Com isso, são removidos os dois ovários e as chamadas trompas de falópio.
O que não se sabia ainda era de que forma tal intervenção estaria associada com a redução da mortalidade por todas as causas desses grupos. Diante disso, autores de um artigo sobre o tema reuniram dados de 4300 mulheres com alterações nos genes BRCA 1 e 2, mas sem diagnóstico prévio de câncer. Cerca de 2900 delas passaram por essa cirurgia.
Ao longo do acompanhamento de nove anos, 851 mulheres foram diagnosticadas com algum tipo de câncer. 228 delas morreram.
Na prática, as pacientes com mutações patogênicas nos genes 1 e 2 que haviam removido os ovários apresentaram risco 68% menor de mortes por todas as causas. Adicionalmente, a cirurgia parece ter tido um efeito significativo na diminuição da incidência de câncer de mama.
Em suma, pacientes com mutações nos genes BRCA podem discutir cuidadosamente com seus médicos a necessidade do procedimento. Tal decisão deve ponderar riscos e benefícios diante das evidências disponíveis.
Aproveite agora para saber mais sobre o assunto e conferir como a gestação após um câncer de mama de mulheres com alterações nos genes BRCA pode ser levada em frente com segurança.