A possibilidade de levar em frente uma gravidez após o câncer de mama é uma dúvida bastante comum nas pacientes que superaram a doença. E é natural que isso aconteça. Ao mesmo tempo em que o desejo de ser mãe pode ser grande, por muito tempo se acreditou que as alterações hormonais inerentes à gestação poderiam influenciar no risco de recidivas.
Embora já existam evidências que contradigam tal afirmação, algumas questões permanecem em aberto. É o caso, por exemplo, das mulheres portadoras de mutações nos genes BRCA. Afinal, mesmo depois do fim do tratamento, há risco na gestação dessas pacientes, seja do ponto de vista de evolução da gravidez, seja por conta da chance de o tumor voltar?
Foi com essas questões em mente que um estudo publicado em dezembro de 2023 no JAMA Network trouxe mais informações para o debate.
A gravidez após o câncer de mama em pacientes com mutação nos genes BRCA
No geral, pacientes que já superaram um tumor nas mamas podem engravidar com segurança. Isso significa que elas não têm maiores chances de enfrentar gestações de risco ou de aumentar a probabilidade da doença voltar.
Apesar disso, embora parte das pacientes diagnosticadas com câncer de mama carregue uma mutação nos genes BRCA 1 ou 2, se tem menos certeza sobre como tal característica influencia nos riscos de uma gestação após o tratamento. Estudos anteriores sobre o tema geralmente incluíam poucas pacientes com essas características.
Assim sendo, um consórcio de mais de 78 centros médicos ao redor do mundo se uniu para agrupar pacientes com 40 anos ou menos que haviam completado com sucesso o tratamento contra um câncer de mama. Todas essas mulheres tinham mutações nos genes BRCA 1, 2 ou em ambos.
Ao todo, foram reunidos os dados de 4732 pacientes. Elas foram diagnosticadas em um intervalo de 20 anos (entre janeiro de 2000 e janeiro de 2020) e foram acompanhadas, em média, por 7,8 anos.
A partir disso, as gestações entre esse grupo de pacientes foram registradas. Com isso, durante todo o período do estudo, 659 mulheres engravidaram. Isso representa 20% do total ou uma a cada cinco. Desse montante, quase 80% completaram a gestação e mais de 90% tiveram partos no período esperado. Em média, as gestações ocorreram 3,6 anos após o fim do tratamento.
Os principais números e as conclusões do estudo
Em um primeiro momento, os pesquisadores puderam concluir que, em comparação com as pacientes que não engravidaram, àquelas que haviam concebido um filho tinham em média:
- Uma idade menor;
- Mais chances de carregar uma mutação no gene BRCA 1;
- Mais chances de ter passado por uma supressão ovariana por conta de um tumor receptor hormonal positivo.
Foi possível constatar também que não houve diferença na sobrevida livre de doença entre quem engravidou ou não. Ou seja: o período em que as voluntárias de ambos os grupos permaneceram sem um novo tumor na mama foi mais ou menos igual. Adicionalmente, os autores apontam que as mulheres que gestaram uma criança tinham menos chances de ter morrido por câncer de mama ou por qualquer outra causa.
Com relação ao curso das gestações, também não foi possível notar qualquer risco adicional: mesmo nos casos em que houve complicações, a grande maioria não pareceu relacionada a qualquer aspecto atrelado ao câncer de mama ou ao tratamento.
Em suma, as evidências reunidas permitem concluir que no universo analisado, mulheres que tiveram um câncer de mama e carregam uma mutação nos genes BRCA podem engravidar de forma segura.
O que isso pode indicar para as mulheres nessas circunstâncias
É claro que esse estudo não é suficiente para bater o martelo sobre a questão. Além disso, vale destacar que os números do artigo não permitem dizer que a gestação nessas condições tenha um efeito protetor contra recidivas, como acontece com mulheres que ainda não tiveram a doença. Nesses casos, a gravidez só não aumenta as chances de que a doença volte, nem oferece riscos ao desenvolvimento do bebê.
De qualquer maneira, as conclusões obtidas podem orientar as conversas entre pacientes e médicos. Dessa forma, é possível ponderar não só sobre a segurança dessa opção, como considerar alternativas para contornar eventuais problemas de fertilidade.
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