A mamografia é reconhecida em todo o mundo como uma ferramenta importante para o rastreamento e diagnóstico do câncer de mama, auxiliando na detecção precoce e na redução da mortalidade causada pela doença.
As evidências dos benefícios do exame foram reforçadas recentemente com a publicação, na revista científica Radiology, dos resultados de um grande estudo realizado por um grupo de pesquisadores. A pesquisa é intitulada “Beneficial Effect of Consecutive Screening Mammography Examinations on Mortality from Breast Cancer: A Prospective Study” (Efeitos benéficos do rastreamento consecutivo por meio de mamografia sobre a mortalidade por câncer de mama: um estudo prospectivo, em tradução livre).
A principal conclusão da pesquisa já é conhecida: a mamografia reduz substancialmente o risco de morte como consequência do câncer de mama. A novidade do estudo, entretanto, está em mostrar a importância de o exame ser realizado com regularidade.
Ficou evidente que as mulheres que pularam até mesmo uma mamografia programada, antes de um diagnóstico de câncer de mama, enfrentaram um risco significativamente maior de óbito como consequência do câncer.
Essa foi a primeira vez que não só foi investigado o rastreamento do câncer de mama, mas sua regularidade e as consequências para a sobrevivência das pacientes.
A pesquisa
Para chegar a essa conclusão, uma equipe multinacional de pesquisadores analisou dados de cerca de 550 mil mulheres que eram elegíveis para exames de mamografia na Suécia entre 1992 e 2016.
Essas pacientes foram divididas em grupos de acordo com a participação delas nos dois exames de rastreamento (mamografia) mais recentes agendados antes do diagnóstico de câncer. Assim, foram identificados três grupos:
- Mulheres que participaram de ambas as sessões de rastreamento antes do diagnóstico;
- Mulheres que participaram de apenas uma das duas sessões de rastreamento mais recentes antes do diagnóstico;
- Mulheres que não compareceram a nenhuma das duas oportunidades de rastreamento mais recentes antes do diagnóstico.
Resultados
A análise mostrou que a participação nas duas mamografias anteriores ao diagnóstico de câncer de mama proporcionou uma proteção maior contra a morte pela doença do que a participação em nenhum ou em apenas um exame. Confira a seguir.
- A incidência de cânceres de mama fatais ao longo de 10 anos após o diagnóstico foi 50% menor para participantes que realizaram as duas mamografias do que para as que não realizaram o exame.
- Em comparação com as mulheres que compareceram a apenas uma das duas mamografias, as que compareceram a ambas apresentam 29% menos mortes por câncer de mama.
É possível que esses resultados estejam relacionados à detecção da doença em estágios mais precoces, permitindo intervenções com chances mais elevadas de sucesso.
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O estudo foi publicado em um momento crítico, justamente quando um alto volume de mulheres adiou ou deixou de fazer a mamografia devido à pandemia de Covid-19. De acordo com a Prevent Cancer Foundation, cerca de 35% dos americanos faltaram aos exames de rotina de câncer devido ao medo relacionado ao novo coronavírus ou a eventuais interrupções na prestação de serviços de saúde eletivos durante a pandemia.
A longa duração da pandemia, no entanto, torna evidente a necessidade de que os exames preventivos de rotina não sejam deixados de lado. No caso da mamografia periódica, sua realização pode significar um aumento nas chances de recuperação e sobrevivência ao câncer de mama.
Quem deve fazer a mamografia? E com que frequência?
A Organização Mundial de Saúde e, no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer reconhecem a mamografia como técnica de rastreamento com resultados comprovados para redução da mortalidade pela doença.
Apesar do INCA indicar a mamografia uma vez a cada dois anos em mulheres assintomáticas que tenham entre 50 e 69 anos. As sociedades de Oncologia, Mastologia e Radiologia do Brasil recomendam que esse início seja aos 40 anos e com periodicidade anual. Pessoas com histórico familiar de alto risco têm indicações de rastreamento diferenciadas conforme o grau de risco diagnosticado pelo mastologista.
Essa periodicidade se baseia em evidências científicas que levam em conta o risco-benefício da realização do exame de imagem em cada etapa da vida.
Todas as mulheres, independentemente da faixa etária, que verificarem a presença de sintomas atípicos nas mamas devem buscar o auxílio de um médico mastologista. Ele avaliará caso a caso e poderá, eventualmente, solicitar a realização de mamografia e outros exames diagnósticos.