Nos Estados Unidos (assim como no Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer, o Inca), o câncer nas mamas é o tipo de tumor mais comum entre as mulheres. Ele está atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Entretanto, apesar da alta incidência, um estudo feito pela American Cancer Society mostra que o índice de mortalidade por câncer de mama vem caindo nas últimas décadas. Os dados foram publicados em outubro de 2022 no periódico Cancer Journal for Clinicians.
Por outro lado, esses avanços se mostram desiguais. Com isso, determinados recortes demográficos (como mulheres negras, por exemplo) ainda têm taxas de mortalidade substancialmente maiores. Desse modo, os dados da publicação podem ser úteis para reforçar estratégias de prevenção, rastreio de casos e tratamento adequado.
A incidência de câncer de mama nos Estados Unidos
Para o estudo norte-americano foram considerados incidência e mortalidade por câncer de mama disponíveis em diferentes bases de dados. Quando combinadas, elas permitiram agrupar estatísticas sobre a maior parte da população desde a década de 1970. As informações eram relativas a quadros de carcinomas ductais in situ e tumores invasivos da mama.
Com isso, o estudo aponta que entre meados dos anos 1980 e 1990 a incidência de câncer de mama subiu consideravelmente. Parte substancial do aumento nessa taxa se deu pelo maior volume de diagnósticos precoces e assintomáticos, devido à expansão de acesso às mamografias.
Para se ter uma ideia, entre mulheres acima de 50 anos, a prevalência de carcinomas ductais in situ cresceu mais de 10 vezes. Ela saiu de 7 casos a cada 100 mil mulheres em 1980 para 73 casos/100 mil em 2000.
Outro dado interessante é a redução de episódios de tumores invasivos nas mamas notada entre 2001 e 2004. Os autores atribuem tal queda à diminuição do uso de técnicas de reposição hormonal. Em 2002, o programa Women’s Health Initiative (WHI) apresentou os resultados de um ensaio clínico que associava terapias de reposição hormonal com um maior risco do desenvolvimento de câncer de mama invasivo.
Seja como for, o crescimento da incidência de casos de câncer de mama se deu entre todos os grupos étnicos. Entre as mulheres brancas norte-americanas, o índice alcançou 133,7 casos por 100 mil mulheres, enquanto entre habitantes negras, o indicador atingiu 127,8 casos a cada 100 mil.
A redução não igualitária do índice de mortalidade por câncer de mama
Entre os anos de 1975 e 1989, a taxa de mortalidade cresceu, em média, 0,4% ao ano.Por outro lado, entre 1989 e 2020, o número de óbitos por câncer de mama foi reduzido em 43%. Portanto, em números absolutos, isso representa 460 mil mortes a menos em pouco mais de 3 décadas. Tal melhora é atribuída a evolução de tratamentos cada vez mais direcionados e a ampliação da possibilidade de diagnósticos precoces.
No geral, o índice de mortalidade por câncer de mama nos EUA é de 19,6 óbitos a cada 100 mil mulheres, como indica o programa de vigilância epidemiológica do National Cancer Institute. Como referência, no Brasil, a mortalidade pela doença alcança 11,8 óbitos a cada 100 mil mulheres, de acordo com o relatório sobre o tema do ano de 2022 do Inca. Em ambos os cenários, os dados são ajustados pela média de idade e pela população de cada país.
Todavia, quando se olha de perto os dados relativos à etnia das pacientes que morrem de câncer é que se nota que a desigualdade ainda é um problema. Nos Estados Unidos, a maior taxa foi reportada entre as mulheres negras, com 27,6 óbitos por 100 mil no período entre 2016 e 2020.
Enquanto isso, entre as pacientes brancas, a mortalidade ficou em 19,7 óbitos por 100 mil. Isso representa um número 40% menor. Quando se compara o número de óbitos de negras e de ascendentes asiáticas, a mortalidade entre o primeiro grupo é mais do que o dobro que a do segundo (27,6 x 11,7 por 100 mil).
A desigualdade no diagnóstico e tratamento
As mulheres negras são as mais diagnosticadas com tumores na mama antes dos 40 anos. Além disso, elas têm menos chance de receber o diagnóstico de um tumor ainda em estágio inicial. É nesse período que as chances de reverter a doença são maiores. As diferenças entre as etnias diminuem de acordo com a faixa etária. Mulheres negras só não têm a maior taxa de mortalidade entre os 70 e 75 anos.
No mais, esses números refletem as disparidades raciais da sociedade como um todo. Com isso, diante da chance maior de não contar com uma cobertura de saúde adequada, as mulheres negras têm diagnósticos tardios e recebem tratamentos de menor efetividade, o que se reflete nas altas taxas de mortalidade, principalmente entre as mais jovens.
Mesmo em países que convivem com uma certa estabilidade no índice de mortalidade por câncer de mama nas últimas décadas, como é o caso de partes do Brasil, as conclusões do estudo norte-americano reforçam alguns pontos essenciais. Além de expandir de maneira equânime o acesso a serviços de saúde para detecção precoce e tratamento adequado, é fundamental fortalecer ações de prevenção que favoreçam a reversão de hábitos associados a uma maior chance de desenvolver um tumor. Exemplos disso são o tabagismo, o consumo de álcool, o sedentarismo e o excesso de peso.
Aproveite e saiba mais sobre a associação entre reposição hormonal e risco de câncer de mama.