Diante do impacto que a doença pode ter, nem sempre as notícias envolvendo o câncer são positivas. Todavia, a queda da mortalidade por câncer registrada nas últimas décadas reflete uma série de avanços obtidos no manejo e no tratamento dessa condição.
Exemplo disso são os dados coletados pela American Cancer Society (ACS). De acordo com a edição de 2023 do relatório de estatísticas do câncer publicado pela instituição no periódico da American Society of Clinical Oncology (ASCO), os Estados Unidos observaram uma redução na mortalidade pela doença que alcançou 33% levando em conta o período a partir de 1991. Na prática, isso significa que mais de 3,8 milhões de mortes pela enfermidade foram evitadas.
As projeções para novos casos de câncer
É preciso sempre ter em mente como o câncer é um problema de saúde pública, seja nos Estados Unidos, em qualquer outro país. Assim, ele aparece como uma das principais causas de morte em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as diferentes neoplasias registraram em um único ano 9,6 milhões de mortes (marca referente a 2018).
Nesse sentido, notar reversão nas tendências de mortalidade ao longo do tempo é um excelente indicativo. De acordo com os dados do relatório da ACS, ela se manteve mesmo diante de obstáculos como a pandemia de Covid-19 e a deficiência de acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequado em alguns recortes da população.
No relatório publicado em janeiro de 2023, a ACS analisa os dados coletados em bases com informações sobre a doença que estão disponíveis no National Cancer Institute (NCI) e no Center For Disease Control (CDC). A partir disso, são traçadas estimativas, projetados cenários e analisadas tendências sobre a incidência da doença no território norte-americano ao longo dos anos.
Para 2023, por exemplo, o relatório indica que serão diagnosticados mais de 1,9 milhão de tumores entre a população norte-americana. Desse total, a expectativa é de que mais 297 mil sejam de casos de câncer de mama em mulheres.
Como comparação, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no triênio 2023-2025, o Brasil registrará, em média, 704 mil casos de câncer por ano. Tal número deve sempre levar em conta que a população brasileira é menor (210 milhões contra 330 milhões de norte-americanos) e tem composição etária diferente.
A dimensão na queda de mortalidade por câncer nos Estados Unidos
Ao mesmo tempo, os dados da ACS indicam ganhos tanto na sobrevida dos pacientes quanto na redução da mortalidade, conforme já mencionado. Em relação a sobrevida, a proporção de pacientes que sobreviveram ao menos 5 anos após o diagnóstico subiu de 49% para casos identificados em meados dos anos 1970 para 68% levando em conta diagnósticos feitos entre 2012 e 2018. Para tumores na mama, o índice saiu de 75% e alcançou 91%, considerando os mesmos períodos.
Com relação à mortalidade, é interessante perceber que o ritmo da queda vem, em média, se acelerando com o passar dos anos. Enquanto por boa parte dos anos 1990 a redução foi de 1% ao ano, entre 2015 e 2020, a queda atingiu o ritmo de 2%, considerando todos os tipos de tumores.
No geral, os dados apontam que parte significativa da queda foi influenciada pelos avanços na prevenção dos quadros de câncer de pulmão. Entre homens, por exemplo, a taxa desse tumor caiu, em média, mais de 5% ao ano entre 2014 e 2020.
Tumores nos pulmões são os que mais matam tanto homens quanto mulheres nos EUA. Para as mulheres, os tumores nas mamas aparecem como segunda causa de morte por câncer mais comum, enquanto para os homens a neoplasia que ocupa tal posto é a de próstata.
Ainda com relação ao câncer de mama, o levantamento indica que ele atingiu seu pico de mortalidade nos EUA em 1989. Desde então, a taxa caiu 43%. Por outro lado, para esse tipo de tumor, a velocidade da queda vem desacelerando. Ela variou entre 2% e 3% entre os anos 1990 e começo dos anos 2000. Porém, entre 2011 e 2020 o índice se aproximou do 1% de redução de mortalidade ao ano.
As explicações para tal fenômeno
Entre medidas que já contribuíram para a queda de mortalidade registradas nos EUA estão a diminuição do número de fumantes, ampliação do rastreio de novos casos (incluindo de câncer de mama) e a disponibilização de novos tratamentos inovadores (como terapias-alvo e imunoterapias). Alguns desses tratamentos são capazes de colaborar com o aumento da sobrevida, com a eliminação do tumor e a redução da chance de recidivas.
Apesar disso, as projeções indicam que mais de 600 mil pessoas serão vitimadas pelo câncer em 2023 nos Estados Unidos. Ou seja, embora os avanços sejam significativos, eles não são suficientes para tirar o câncer da lista de enfermidades que mais provocam mortes. Isso deve orientar a implementação de medidas que fortaleçam a prevenção e o acesso à diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Leia também:
Taxa de mortalidade por câncer de mama cai nas últimas décadas, mas desigualdades ainda persistemO que ainda precisa ser feito para reduzir o número de casos e ampliar a queda de mortalidade por câncer
Apesar da notícia sobre a redução da mortalidade e a dimensão dos milhões de vidas poupadas, determinados números dos dados apresentados pela ACS apontam que há necessidade de reforço em algumas estratégias de prevenção.
Os casos de câncer de próstata entre homens aumentaram de forma acentuada, por exemplo. De forma paralela, às linhas das estatísticas de casos de tumores nas mamas, no fígado e no corpo do útero também continuam a subir.
Todavia, o aumento do número de casos se deu de maneira mais relevante em grupos socialmente desfavorecidos, como a população negra, por exemplo. Essa fatia da população também sofre com uma mortalidade maior se comparada aos brancos. Ou seja, essas faixas de população tendem a se beneficiar menos do acesso aos recursos que contribuíram com a queda de mortalidade por câncer no período. Com isso, expandir o acesso às opções de prevenção, controle e tratamento dessas condições de forma igualitária é essencial para ampliar os resultados que reverberam em boas notícias.
Gostou do assunto? Então, saiba mais sobre como novos medicamentos contribuíram para que houvesse redução na mortalidade por câncer de mama.