A dor do câncer é um sintoma que pode comprometer significativamente o bem-estar de pacientes oncológicos em diferentes estágios da doença, especialmente durante o período de recuperação. Por isso, estratégias eficazes para manejá-la são essenciais ao cuidado integral.
Nesse contexto, medidas paliativas de caráter não farmacológico (ou seja, que não dependem de nenhuma medicação adicional) podem contribuir de forma relevante para o objetivo.
Um exemplo promissor foi um estudo publicado em meados de 2024 no BMJ Supportive & Palliative Care apontando que sessões de respiração focadas de apenas 20 minutos teriam benefício rápido no alívio do incômodo.
O impacto da dor do câncer sobre esses pacientes
Estima-se que cerca de metade dos pacientes oncológicos experimentam níveis de dor que vão de moderado a intenso durante o curso da doença.
A explicação para esse sintoma tão comum varia conforme o quadro, mas envolve aspectos como:
- compressão de diferentes áreas por conta da progressão do tumor;
- comprometimento de tecidos ao redor do local da lesão maligna;
- mecanismos neuropáticos (ou seja, associados a danos nos nervos);
- efeitos colaterais de tratamentos necessários para combater a doença.
Tal desconforto tem profundas consequências sobre a vida do paciente, especialmente em um momento que, por si só, já é difícil.
Para lidar com a questão, atualmente os médicos responsáveis pelo acompanhamento contam com medidas farmacológicas, na forma sobretudo de analgésicos, e não farmacológicas, como intervenções psicossociais, fisioterapia e uma vasta gama de terapias alternativas, a exemplo da acupuntura.
Embora a atenção ao sintoma tenha aumentado consideravelmente, o controle adequado por meio dessas iniciativas ainda esbarra em uma série de limitações que impedem um nível de resolução satisfatório.
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Como a respiração focada pode ser uma medida paliativa relevante
Dentro das medidas não farmacológicas que podem ser indicadas, modelos baseados em rotinas de meditação mindfulness vem ganhando um destaque significativo.
Em resumo, esse tipo de exercício envolve manter o foco por alguns minutos, no qual o indivíduo concentra-se em si e na sua respiração.
Já existem benefícios da prática observados em diferentes contextos, inclusive no controle da dor oncológica. No entanto, os autores do estudo mencionado destacam que os dados analisados se concentram sobretudo em grupos de pacientes que mantiveram a intervenção por várias semanas, em programas estruturados com esse fim.
Ou seja, não se sabe qual seria o tamanho do benefício de uma única sessão de meditação focada no controle da respiração por 20 minutos (intervalo de tempo escolhido considerando o potencial analgésico da intervenção mensurado em outros estudos).
A partir disso, foram reunidos 40 pacientes (acima de 18 anos) internados para tratar qualquer tipo de complicação relacionada a um câncer. Eles tinham em média 63 anos e seis haviam sido diagnosticados com câncer de mama. 65% relataram uso de analgésicos opioides no gerenciamento da dor.
Esses indivíduos apresentavam uma escala de dor superior a quatro (em uma contagem que vai até dez), que é o equivalente a uma dor, no mínimo, moderada. Na sequência, os voluntários foram divididos em dois grupos:
- o primeiro, com 21 integrantes, recebeu orientações de um médico capacitado em técnicas de meditação, visando o exercício de 20 minutos;
- já o segundo, com 19 integrantes, passou por uma sessão de acolhimento também com um médico, em que eles puderam falar sobre suas experiências com a doença.
Antes e depois de cada intervenção, todos responderam questionários a respeito da percepção de dor, assim como acerca do humor experimentado naquele momento.
As conclusões e possíveis aplicações do estudo em questão
No fim, os pesquisadores puderam concluir, por meio das respostas, que aqueles que haviam feito os exercícios de respiração focada por somente 20 minutos apresentaram uma redução significativa da dor.
Além disso, eles tiveram uma melhora em indicadores relacionados à ansiedade e ao desconforto associado à progressão do câncer.
Ainda assim, os resultados esbarram em alguns gargalos. O principal deles é o tamanho da amostra: embora tenha sido feito comparando dois grupos, é necessário um número maior de informações para confirmar o potencial do benefício, inclusive com maior variação entre os quadros clínicos dos pacientes que participaram do estudo.
Adicionalmente, futuras investigações devem tentar entender se o ganho obtido é duradouro e de que modo tal recurso pode ser combinado a outras medidas no manejo desses sintomas.
Seja como for, a meditação e a respiração focada no controle da dor do câncer apresentam entre suas vantagens o baixo custo de implementação e a ausência de efeitos colaterais. Desse modo, ela não deve ser descartada do rol de opções para superar o desconforto.
Aproveite e saiba mais sobre as diretrizes adequadas para o uso de medicina integrativa no gerenciamento da dor oncológica.