Há uma conexão entre cirurgia bariátrica e câncer de mama, fazendo com que a chance de desenvolver a doença seja menor devido à perda de peso? Foi essa a pergunta que conduziu um estudo feito por pesquisadores canadenses e publicado em maio de 2023 no períodico JAMA Surgery.
Tal questão é relevante sobretudo quando se pensa que a obesidade cresce em todo o mundo. Embora seja uma condição em que a prevenção é possível, as taxas de pessoas obesas triplicaram desde 1975, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Ao mesmo tempo, já se sabe também que vários problemas de saúde estão associados ao excesso de peso. Portanto, adotar medidas para reduzir tais riscos pode beneficiar muitos grupos.
Como o peso afeta o risco de desenvolver câncer de mama?
Como referência, a obesidade é definida pelo acúmulo de peso corporal que eleva o IMC (sigla de índice de massa corporal, que é obtido por meio da divisão do peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros) acima de 30. Entre 25 e 29,9, o indivíduo apresenta um quadro de sobrepeso. As doenças que têm no peso uma forte contribuição vão de diabetes até alterações cardiovasculares, passando por diferentes tipos de câncer, incluindo nas mamas.
Um dos motivos pelo qual mulheres acima do peso têm mais chance de desenvolver um câncer de mama está no fato de que as células adiposas podem elevar a quantidade do hormônio estrogênio no organismo. Vários tipos de tumores na mama têm seu crescimento acelerado pela ação justamente do estrogênio. Além disso, o excesso de peso desencadeia processos que podem provocar resistência à insulina. Isso também contribui para elevar o risco de desenvolver um câncer.
Apesar disso, algumas dúvidas permanecem sobre a conexão entre câncer de mama e peso corporal. A princípio, pode ser difícil isolar a obesidade de outros fatores de risco, por exemplo. Ademais, o momento da vida em que se engorda e o local onde a gordura se acumula (na cintura, por exemplo) também parecem ter influência.
Todavia, a obesidade deve ser encarada como um fator de risco modificável para o câncer de mama. No fim, perder peso também interfere em outros aspectos da saúde, favorecendo o bem-estar como um todo.
O que o novo estudo mostra sobre a relação entre cirurgia bariátrica e câncer de mama?
As cirurgias bariátricas (também conhecidas como cirurgias de redução de estômago) são indicadas para pessoas obesas que não conseguem perder peso com alteração dos hábitos alimentares e exercícios ou quando o excesso de massa corporal está afetando gravemente a saúde.
No estudo canadense já citado, os pesquisadores queriam entender se as mulheres submetidas à uma cirurgia bariátrica tinham algum benefício relativo à redução do risco de câncer de mama. Para esse fim, foram coletados os dados de 69 mil mulheres, entre 2010 e 2016. Elas tinham idade média de 45 anos.
A partir disso, os responsáveis pela pesquisa compararam os casos de câncer de mama entre o grupo que havia passado pela cirurgia bariátrica e o conjunto de mulheres que não passou pelo procedimento.
As pacientes operadas foram acompanhadas por cinco anos. Antes da intervenção, elas tinham IMC que variava entre 35 e 40, conforme a presença ou não de comorbidades. As pacientes sem cirurgia foram acompanhadas pelo mesmo período, contado desde a primeira medição de IMC feita dentro do estudo. Além disso, elas foram divididas em 4 faixas, conforme o IMC.
No fim, foram registrados 659 casos de câncer dentro da população dos dados coletados. Analisando a incidência em cada um dos grupos, foi possível concluir que mulheres que passaram pela bariátrica tinham um risco de desenvolver câncer de mama similar ao de mulheres com IMC abaixo de 25 e menor do que os demais grupos de IMC igual ou acima de 25. A diferença entre os grupos alcançou uma redução de risco equivalente a 40% em um ano após a cirurgia. Tal ganho se manteve durante os cinco anos de acompanhamento.
Que limitações pode haver no benefício da cirurgia bariátrica?
Embora importantes e até mesmo surpreendentes, as conclusões do estudo canadenses esbarram em algumas limitações. A principal delas diz respeito ao fato de que os benefícios da perda de peso talvez não possam ser estendidos para todas as mulheres.
Ainda que o peso seja um componente de risco importante, existe uma série de outros fatores não modificáveis que não foram avaliados pelo estudo. Entre eles estão históricos familiares da doença, predisposição genética pela presença de determinadas mutações ou mesmo o diagnóstico anterior de lesões na mama.
Por fim, como os próprios autores do artigo apontam, eles não tinham como saber se o grupo de mulheres operadas passou a adotar hábitos mais saudáveis depois da cirurgia. Isso tende a ser esperado e pode contribuir com a diminuição da chance de desenvolver a doença. Ademais, não foram consideradas variáveis como consumo de álcool e etnia.
Apesar das restrições do estudo, a mensagem que pode ser extraída da possível relação entre cirurgia bariátrica e câncer de mama é a forma como a perda de peso pode contribuir para a prevenção da doença. Assim, autoridades de saúde pública, médicos e pacientes podem orientar suas ações para minimizar tais riscos.
Veja agora como alimentos ultraprocessados, associados ao ganho de peso, podem também contribuir para a chance de desenvolver um câncer.